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Álbuns para o teu verão saber a batida limão ao invés de sumo de alcatrão

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“No entardecer dos dias de Verão, às vezes,

Ainda que não haja brisa nenhuma, parece

Que passa, um momento, uma leve brisa...” – Fernando Pessoa





Nada melhor que o sentimento de mais um doce verão se afirmando perante os nossos sentidos; a confortável sensação do caos ambiental que se aproxima em todo o mundo, cidades que são mal projetadas arquitetonicamente para a passagem do vento e a constante experiência de apanhar comboios lotados de ingleses voltando da praia. Mas calma, o verão ainda pode saber bem, eu prometo, com uma dose de boa música em situações propícias para o belo consumo dessas canções. Nesse artigo vou sugerir alguns belos álbuns para te acompanhar nesse verão e então poderes lembrar que a vida ainda tem a sua piada debaixo de 38ºC sem vento e sem sombra.


Marina Sena – De Primeira: Álbum que já foi destrinchado no belo artigo da minha colega Marta Tavares, De primeira é recheado de batidas atrevidas que passeiam entre as mais variadas sonoridades. A versátil voz de Marina é um deleite aconchegante que nos hipnotiza entre as facetas potentes e os timbres que acalantam. Esse álbum é uma ótima trilha enquanto se prepara um almoço com alguma pessoa querida (tomates cereja envolvidos na receita) e para balançar os quadris enquanto se lava a louça. O álbum também se encaixa perfeitamente num passeio de bicicleta, recomendo descer a Alameda Edgar Cardoso ao lado do Parque Eduardo VII, se entregando à mistura de música, brisa e a cobertura de árvores proporcionada por essa descida - só não se entregue demasiado para não perder o controle e acabar por entregar o queixo ao asfalto.


Mac Demarco – This Old Dog: Um dos álbuns mais sutis e delicados em termos de produção e melodia de Mac, mesmo com o minimalismo de suas produções e deixando de lado alguma das guitarradas indie que acompanhavam os seus trabalhos anteriores. Em pouco mais de 40 minutos, viajamos num embalo que acaricia os ouvidos tratando de temas aconchegantes e amorosos e até crises existenciais e problemas familiares. Esse álbum é uma ótima pedida para passar um tempo sozinho, refletindo, deitado na relva de algum bom parque, absorvendo a necessária dose de vitamina D diária, talvez com uma sesta, fazendo um desenho ou qualquer atividade que coloque seus pensamentos em ordem (ou não!). Uma boa porção de morangos frescos também alavancam a experiência.


Novos Baianos – Acabou Chorare ou Bala Desejo – SIM SIM SIM – Aqui existe uma simbiose musical das energias boémias e veraneias que a música brasileira carrega no seu ponto de vista mais do que único e inimitável. Acabou Chorare, que é um dos maiores álbuns da História brasileira (quiçá o maior), é referência em termos de inovação e mistura dos elementos musicais brasileiros e sua fusão tão bem feita de harmonias psicadélicas com tempero sul-americano. Um prato cheio de milagres musicais e também mais uma variedade para os seus seguidores do Instagram que já não aguentam Chico Buarque nos stories. O ainda bebé disco do Bala Desejo é uma das melhores novidades que a música brasileira apresentou em 2022, recheado de influências dos maiores nomes da MPB, como os próprios Novos Baianos, Caetano Veloso, Gal Costa, Rita Lee e muito mais. O disco é uma ode de afirmação a celebração da vida mesmo diante do caos inerente de se viver no Brasil; com muito repique, coros angelicais e melodias carnavalescas que demonstram sempre ousadia. Esses dois discos funcionam muito bem um após o outro, talvez num passeio na praia ou cachoeira com os amigos, acompanhado de uma cerveja ou suco de maracujá. Funciona muito bem para se escutar durante o banho e no processo de se arrumar para uma noite recheada de boémia e flertes (não) intencionais nos bares e esquinas da cidade.


Chet Baker – Chet Baker Sings: Já sei que essa escolha pode causar alguma estranheza, para os que já possuem alguma familiaridade com a obra de Chet Baker, recheada de uma ternura melancólica que nos invade na combinação fatal de sua voz mansa e de seu trompete arrebatador. Sim, provavelmente esse álbum saberia melhor num contexto de outono, mas temos de nos lembrar aqui das pessoas que se sentem deslocadas com o calor do verão, as que estão numa fase introspetiva e não estão com estruturas para aguentar as energias tropicais. Esse álbum combina com uma caminhada pela Avenida da Liberdade logo depois de assistir algum filme marado na Cinemateca ou com uma xícara de café lendo aquele livro que já está apodrecendo na sua ecobag há mais de 8 meses.


Ana Frango Elétrico – Mormaço Queima: Aqui está a minha última recomendação, com um título bem sugestivo. O primeiro álbum de Ana Frango Elétrico pode ser menos aclamado que o seu sucessor Little Eletric Chicken Heart, porém já mostra toda a malandragem e leveza de Ana no seu lirismo que consegue falar sobre os assuntos mais banais dando o tom mais importante possível. Sem a fineza na produção que acompanha os trabalhos mais recentes, Mormaço Queima tem espaço para distorções sujas e batidas dançantes, tudo isso numa estrutura de uma bagunça muito bem organizada. Esse álbum combina muito bem com.… fazer nada. Não faça nada, deite e escute! Espie pela janela, observe o movimento das pessoas e das folhas. Entregue-se para a vagabundagem, ou como a própria Ana Frango Elétrico sugere: “O Mormaço Queima é pra ser ouvido tirando o relógio do pulso e comendo uma bala de tamarindo.”




Dionys Campos




Menções Deliciosas:


Amoroso - João Gilberto

Criôlo – B Fachada

Samba Esquema Novo – Jorge Bem

Songs of Her’s - Her’s

Atlanta Millionaires Club – Faye Webster

Caetano Veloso (1969) – Caetano Veloso



Palavras Chave: “Verão” ; “MPB” ; “Música Brasileira”; “Álbuns”.



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