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Black Bass 2022

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Nos passados dias 11 e 12 de novembro decorreu em Évora o festival Black Bass, com a sua primeira edição pós-pandémica completa (em 2021 houve um “Bass to the Future”, com cartaz reduzido).





Este evento é organizado pela agência e produtora eborense Pointlist, tendo a sua 1ªedição tomado lugar em 2014, sob o nome “BLACK BASS - Évora Psychedelic Fest”. Os cartazes das várias edições do festival costumam contar, principalmente, com nomes do catálogo da Pointlist, assim como outros artistas nacionais emergentes e até alguns nomes internacionais.


Como já é habitual, esta edição do festival decorreu maioritariamente no espaço SOIR-JAA (Sociedade Operária de Instrução e Recreio Joaquim António de Aguiar), apesar dos eventos do primeiro dia terem ocupado a SHE (Sociedade Harmonia Eborense).


Na noite do dia 11 foi possível assistir à performance de bbb hairdryer a abrir o festival, seguida por um DJ set do ícone do indie português O Gato Mariano. Já no dia 12, a festa começou no bar da SOIR-JAA às 17h, com os concertos dos nortenhos O Triunfo dos Acéfalos e ainda Pós-Saudade and the Merry Youth, ambos intercalados pelo DJ set do vocalista de Fugly, que tocariam mais tarde. Subindo as escadas para o andar superior ao bar, chegamos ao “Palco Pointlist”, onde houve atuações desde as 21h até às 02h, apenas com interrupções para trocar o equipamento. Com sets de aproximadamente 45 minutos cada, tocaram, pela respetiva ordem, as bandas Summer of Hate, The Miami Flu, Hause Plants, Wine Lips (CA), Fugly e Máquina. Houve ainda, entre as 16h e as 20h, a oportunidade de fazer uma tatuagem, neste mesmo espaço, com a artista Cristina Viana, que tem vindo a fazer os gráficos para o Black Bass.


Todo o Black Bass foi uma experiência incrível – senti que toda a gente presente naqueles concertos estava a vivê-los com uma intensidade que foi escalando com o passar da noite.

Começando pelo primeiro dia do festival, a atuação de bbb hairdryer merece ser destacada. O trio manteve a mesma energia contagiante desde o início até ao fim do concerto, com toda a visceralidade que o queer punk deve ter. A vocalista e guitarrista, Robin, faz questão de causar desconforto entre o público através da sua performance (arrastar um escadote pela sala, atirar cubos de gelo para o meio do público, ...), refletindo de certa maneira as temáticas retratadas no seu disco Kingdom Hearts II Final Mix: pretty generic radio pop with a few fucks and edgelord lyrics. Foi uma opção intensa para abrir esta edição do festival, mas que cativou, sem dúvida, qualquer espetador.


Já no dia seguinte, tocou o duo O Triunfo dos Acéfalos, sobre quem escrevi na edição de outubro do Amplificador. Equipados apenas com uma guitarra elétrica e um computador, Luís Barreto e Joana Ferreira entregaram-nos toda a energia que a sua música nos prometera. Um dos momentos mais satisfatórios deste festival foi poder finalmente berrar o refrão do single “Vivemos num Inferno” ao vivo, mesmo que tenha sido o único a fazê-lo.


Ao contrário destes dois projetos que mencionei, quero também destacar uma banda que já vi ao vivo anteriormente, mais do que uma vez. Os Fugly, quarteto portuense de Garage Rock, tocaram por volta das 01h, hora perfeita para o público que já tinha “aquecido”. Bastaram poucos acordes para agitar a sala, e sem perder grande tempo formou-se um mosh pit. Houve ainda espaço, como devia sempre haver em sets tão entusiasmantes como os de Fugly, para crowd-surfing (acuso-me como culpado de algum stage diving), com o apoio de um público excecionalmente acolhedor.


Para terminar a noite e também a edição de 2022 do Black Bass, veio o trio Máquina, para provar que ainda havia energia para dançar, mesmo depois de tantas horas de concertos esgotantes. Emergindo-nos numa espécie de rave techno e industrial com baixo, guitarra e bateria, a banda deu uma das mais interessantes atuações do festival, parecendo ter surpreendido positivamente uma grande parte do público (e também dos outros artistas). Juntam o rock à eletrónica, com músicas repetitivas e mecânicas marcadas pela distorção do baixo e por uma bateria admiravelmente firme e constante. Máquina foram o nome perfeito para fechar este festival.

 

O Black Bass pode, à primeira vista, parecer só mais um festival pequeno português, que não traz grandes novidades. Mas foram dois dias inesquecíveis, que me fizeram pensar “ainda bem que não estou a passar só mais um fim de semana em Lisboa”. Pessoalmente, tive a oportunidade de ver alguns dos artistas que mais tenho ouvido este ano e que em 2021 e 2022 tiveram excelentes lançamentos, como é o caso de Hause Plants, Miami Flu ou Fugly, e pude ainda ver outros projetos emergentes, que mostram um potencial inacreditável.


Perto do fim do último dia, já depois do concerto de Fugly, uma pessoa veio ter comigo (já não me lembro se terá sido alguém do público, um membro dos projetos que tocaram ou alguém da organização) e disse-me, assumo que devido à minha energia durante os concertos, algo nas linhas de “continua com o que quer que estejas a fazer, porque estás a fazer alguma coisa certa”; e é esse mesmo sentimento que eu tenho com a Pointlist : toda a gente que fez este festival acontecer está a fazer alguma coisa certa, e espero que continuem a fazê-lo.




Afonso Mateus



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