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Assunto A – Reiteração do Propósito do Rancho

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(Fotografia da autoria do autor)



O ressurgimento da popularidade do folclore português dentro da indústria musical tem diferentes implicações para a transmissão da nossa cultura às gerações vindouras. Os grupos folclóricos, principais guardiões dos costumes e tradições das gentes que compõem o país, estão, como sabemos, em risco de perder importância por não serem capazes de cumprir a sua continuação.


Serve, portanto, este Assunto para relembrar os ranchos do peso do seu propósito fundador, assim como para os alertar dos perigos relacionados com a perversidade das audiências televisivas e do mercado artístico que os pretende atingir.

 

- O problema do envelhecimento dos grupos folclóricos não pode ser combatido através do consentimento e integração em iniciativas que partilham a nossa cultura recorrendo a estereótipos que a desvalorizam, por mais exposição a novos públicos que possam oferecer. Nisto incluem-se programas televisivos de ocupação de tempos livres dos canais abertos, cujo único objetivo é a obtenção de lucro através de números altos de audiências – os termos irónicos e humorísticos com que muitas vezes os seus apresentadores se dirigem ao Rancho, assim como a frequente prática de playback que compromete a autenticidade das nossas atuações, são evidência das consequências negativas que este envolvimento tem para a nossa credibilidade.

 

- Na sequência da afirmação anterior, as gentes do folclore devem também procurar proteger-se do aproveitamento indevido da sua arte e tempo por parte de indivíduos ligados à indústria musical. Para tal, há que garantir que o rigor na transmissão da sua tradição não é posto em causa. Tal não significa que não possa haver inovação no nosso campo, nem progresso no nosso som – mas esse passo tem sempre de ser dado pelo pé do próprio povo envolvido pela cultura, e nunca por pessoas ou entidades exteriores, com interesse em explorar a recente subida de popularidade do tradicional no meio comercial.


A participação de elementos de um grupo do Minho na apresentação do tema “Agora Vira” de um músico algarvio para a televisão, procurando recorrer-se do vira minhoto e das suas vestes para tentar incorporar uma identidade artística que responda às exigências do mercado musical, é um exemplo de cedência de rigor na nossa apresentação.

 

 

O Rancho Folclórico é o guardião da alma dos antepassados, o veículo de transmissão da missão de carregar o seu legado aos futuros sábios de cada aldeia ou bairro, pelo que defender o Rancho é defender a cultura e todos aqueles que têm potencial de a manter viva. Ora, para tal, é da responsabilidade de cada grupo assegurar o rigor quanto à sua apresentação e aos compromissos que assume. Se, pelo contrário, escolhermos o caminho da superficialidade para cativar a atenção dos jovens, então essa atenção estará desviada do propósito inicial e o folclore será reduzido a passatempo, desprovido do cargo de última defesa da sua terra.


Nesse sentido, é com o afastamento daqueles que nos veem como um meio para alcançar os seus fins, e com a afirmação dentro das nossas próprias comunidades que vamos poder manter a verdadeira chama do Folclore acesa.

 



- Martinho Cruz,

pd imr, 29.09.23



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