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outubro de 2023

Danny Elfman


O nome Danny Elfman é sinónimo de Halloween e, naturalmente, esta é a melhor altura para escutar e referenciar a sua obra.


Conhecido entre o público pela sua longa parceria com o realizador Tim Burton, e pelas bandas sonoras épicas e sombrias que compôs para filmes icónicos como Batman, Edward Scissorhands e The Nightmare Before Christmas, Elfman conseguiu distribuir a sua atividade ao longo dos últimos 50 anos de carreira por várias ramificações musicais, como é o caso da new wave e do ska, que explorou nos anos 80 à frente da sua banda Oingo Boingo, da música para séries televisivas, cujo feito mais reconhecido foi a composição do tema dos The Simpsons, ou ainda das composições de música clássica destinadas a serem apresentadas em auditórios, das quais se destacam a sua suite “Serenada Schizophrana” e o concerto para violino e orquestra “Eleven Eleven”.


No entanto, este texto não vai focar-se nos projetos acima mencionados, mas sim na curta, todavia relevante, obra a solo que Elfman apresenta no seu catálogo discográfico. So-lo, lançado em 1984, foi o álbum que iniciou este percurso, porém, muitos não reconhecem este trabalho como um projeto exclusivo de Elfman por ter sido gravado com o auxílio dos seus colegas de Oingo Boingo. Desta forma, foi preciso aguardar até 2021 para que Danny nos oferecesse um LP a solo com composições que vão além de todas as convenções musicais até então exploradas no seu repertório. Falo de Big Mess, álbum editado em 2021 através da Anti-/Epitaph Records.


Em Big Mess, Danny Elfman mergulha até às profundezas do rock industrial e do metal progressivo. Com a ajuda de ilustres hired guns, como é o caso do baterista John Freese e do guitarrista Robin Finck, e com orquestração dos colaboradores de longa data Steve Bartek e Marc Mann, Big Mess apresenta-se como uma obra musical capaz de despertar no ouvinte sensações mistas que vão desde o desconforto ao êxtase. Tal misto de emoções só é possível através da genialidade composicional de Danny Elfman, que se traduz em linhas melódicas sinistras e em performances vocais carregadas de teatralidade. Faixas como “Sorry”, “True”, “Happy” e “Kick Me” ilustram bem a estética que é considerada a grande imagem de marca de Elfman, e transportam-nos para um universo gótico, distorcido e repleto de loucura que, apesar de desconcertante, é bastante familiar.


Rodrigo Oom Baptista



 

King Krule


A última vez que segui King Krule foi em 2017, no fecundíssimo álbum The Ooz, constituído de maléfica e sofrida substância, e depois de ter ignorado o rei no seu Man Alive!, de 2020, volto ao seu séquito para o álbum deste ano, Space Heavy.


Diz-se de King Krule, nome de registo Archy Marshall, que é o artista indie preferido do hip-hop. Será? Pode dizer-se, por exemplo, de “Space Heavy”, música que dá título ao álbum, que uma palhinha de plástico (“The lake is oil of misery / Get ready, slurp it up”) resgata o grunge. “Where did all those big bad thoughts go?” Não me parece que eles tenham ido longe, nestes retalhos de relações terminadas, noites de insónias e claustrofobia. Muito do que me fascinava em The Ooz prossegue aqui sem descontinuidade, a voz dura de Marshall, a secção rítmica post-punk, o saxofonista Ignacio Salvadores que deforma, reforma, faz brilhar a canção: em “Pink Shell”, intervém ele duas vezes, após o rei afirmar que “nailed your girlfriend” (coisa que era um direito do soberano na idade média), e no final da música, aparente despropósito surrealista ou sentido de humor britânico.


Britânica praia, Crosby Beach, descrita em “Seaforth”, onde um homem perde um amor (“We separate across the blades of growing grass”) e um pai leva uma filha (“This faith is all I have”), som feito dos conterrâneos Kinks. Enfim, um ouvido distorce tudo, se assim pretender: como vos explicar que oiço a “Eleanor Rigby” em “That Is My Life, That Is Yours”, se não há arranjos de cordas, só o saxofone de Salvadores depois de repetidos os versos “And it’s late / and it’s warm”.


O som do gerador do mundo em funcionamento, o saxofone de Salvadores. Redonda távola. Para onde irá o meu rei agora?


Francisco Fernandes



 

Pale Waves


A extraordinária banda britânica Pale Waves, formada em 2014, nunca sai da minha lista de grupos preferidos. Começou com um estilo maioritariamente pop-rock com toques de indie, para depois mais tarde assumir uma sonoridade mais pop-punk. São liderados por Heather Baron-Gracie, vocalista detentora de uma imagem e estilo icónicos, que cita Prince e The Cranberries como as suas principais inspirações, e traz uma estética única aos  videoclipes da banda.


Do primeiro EP All The Things I Never Said e do primeiro álbum My Mind Makes Noises, ambos lançados em 2018, destacam-se as letras emo, depressivas e melancólicas, facilmente relacionáveis para o público jovem, inspiradas em romances tristes e obscuros, toxicidade e autodescoberta. Os singles “Television Romance” e “Kiss” mereceram destaque como mais bem-sucedidos, mas os meus versos preferidos encontram-se em "Black": “You're beginning to hate me / Of who I'm becoming lately /Oh please, don't look at me like that / I feel like I'm having a heart-attack / Don't you say that you don't want me around / I'm not changing, I'm just waiting to figure myself out”. 


“SkindeepSkyhighHeartwide”, em dueto com Lawrence Rothman, chega-nos em 2020 e é talvez a canção mais subvalorizada de Pale Waves, feita para a banda sonora do filme The Turning, onde também ouvimos o verso magnífico: “Why are the ones you love / always the ones you hurt?”.


O segundo álbum Who Am I, lançado em 2021, assim como o terceiro Unwanted, lançado em 2022, trazem as vibes punk de Avril Lavigne e Paramore, na qual a voz de Heather encaixa na perfeição, especialmente na faixa “Lies”. A minha canção preferida vai para “Change”, que nunca me sai da cabeça e “She’s My Religion”, que se destaca como o hino LGBTQ+ da banda.


Depois da passagem por muitos festivais europeus, aguarda-se a vinda de Pale Waves a Portugal.


Jorge Tabuada





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