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novembro de 2023

Ana Frango Elétrico


Os meus amigos a dizer mal da bossa nova, Henrique Amaro a elogiar a música brasileira pelos seus arranjos, ricos em sopros e cordas, em conversa com Ana Frango Elétrico no Portugália, um concerto dela a que não pude ir, uma repentina afeição ao boogie – eis o meu headspace para Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua, lançado pela carioca Ana Frango Elétrico em outubro deste ano.


“Coisa Maluca” é suco de Beatle – ou girlband versão lo-fi? Dizer lo-fi é insultar o trabalho meticuloso de Ana Frango Elétrico, produtora do álbum, tendo sido também co-produtora de SIMSIMSIM (2022) dos Bala Desejo, pois há variegadas texturas neste álbum: violino em “Nuvem Vermelha”, uma flauta que levanta o fumo do cigarro em “Camelo Azul”, um “beat to study to” em “Let’s Go To Before Again”, directo da banda sonora dos Sims, ou trombone e um baixo propulsor (“eu amo sua voz / seu quadril e sua boca em mim”) em “Insista em Mim”, canção linda, e, nos extremos do disco, fortes batidas: na agressividade rítmica de “Electric Fish” e nos lânguidos teclados de “Dr. Sabe Tudo”.


Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua é um álbum de dança fortemente baseado no disco (já colei mentalmente “Electric Fish” a “Wanna Be Startin’ Somethin”, do Thriller (1982) de Michael Jackson). Isso não é dizer que este som esteja desatualizado, porque a sua produção entusiasmante não o permite, nem que ouvi-lo seja um processo acéfalo (“I am jealous because my love shows me sides of me / That I pretend I do not see”). Diga-se então do álbum, e para rematar, “que abaixo do céu, tudo é chão / e acima do chão (tudo já pode ser) / parte do universo”.


Francisco Fernandes



 

Ola Haas


Ola Haas é o nome artístico de Miguel Freitas, músico lisboeta que se estreou em 2017 com Diana, e regressa este ano com Não sou a mesma pessoa todos os dias, um EP de 10 canções grunge acompanhadas por lirismo inteligente sobre o mundano.


Rock fuzzy ruidoso, camadas de guitarras quentes e baterias que servem as canções de Ola Haas que nem sapatinho de cristal. Intercala hinos pop punk viciantes – “Biturbo” ou “Mau Humor Matinal” – com músicas mais pesadas e melancólicas – “Narcisa” ou “O Rei da Ala”, versão de Allen Halloween  –, sem se deixar abrandar. 


Sentem-se na sonoridade do disco fortes influências de Nirvana e do rock dos anos 90, mas é também inegável, entre o ethos Do-It-Yourself e as letras com referência à cidade (inclusive o próprio nome do artista, alusão à zona de Olaias), a influência do circuito independente português (Cafetra Records, Xita Records). As canções transbordam uma certa nostalgia que nos deixa saudosos do auge desta cena: “saudades da nortada / saudades das noitadas”.


Não sou a mesma pessoa todos os dias foi produzido pelo próprio Ola Haas com a ajuda de André Isidro, também responsável pela mistura e masterização do disco, assim como pelas suas baterias, teclados e coros. Foi editado em CD, com artwork de Eduardo Martins, disponível para compra no Bandcamp.


“Fica a lição, / fica a canção”.


Afonso Mateus



 

Tanxugueiras


As Tanxugueiras resgatam a música de eras passadas de um quase olvido na História. Uma sonoridade aquém de esquecida que vem à superfície numa revolução dos tempos modernos com eletrónica… e pandeiretas.


Formado em 2016, o trio é constituído por Olaia e Sabela Maneiro e Aida Tarrío. Lançam o seu primeiro álbum Tanxugueiras em 2018 e, desde então, contam já com lançamentos e reconhecimentos dignos de nota. Fruto de todo o seu mérito, alcançaram prémios que, entre outros, as reconhecem como melhor artista emergente (Premio MIN de la Música Independiente 2022) e melhor adaptação de peça tradicional (XIX Premios La Opinión de Música de Raíz 2020).


As suas harmonias, que unem as diversas vozes tão concentradamente, em uníssono ritmo ou em contraponto, parecem ir sempre em crescendo, não somente preparando o forte, mas antecipando um auge ansioso para o ouvinte.


Mais que as harmonias, o uso das pandeiretas e a escolha do galego como transmissor dos ecléticos temas que o trio apresenta nas suas canções manifesta a proximidade à tradição que mantêm, ainda que propondo uma nova perspetiva ao campo. Os seus textos vão desde a essência intervencionista e não conformista, aos recorridos da vida quotidiana (que também vemos refletidas em canções da música tradicional e popular galega – e quiçá das cantigas galaico-portuguesas). Parece ressoar ao ouvido português um passado longínquo, contudo de proximidade.


A complexidade das suas canções, inclusivamente as que são inteiramente a capella, refletem a luta e a capacidade de sobrevivência da música tradicional, completamente incorporando-se na mixórdia da música contemporânea comercial – prosperando.


As Tanxugueiras são a integração de diversos mundos. São algo distinto no que se tornou um mundo de música muito semelhante.


Mariana Rodrigues




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