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RR

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Das cinzas de Motomami nasceu mais uma flor: podia ser uma flor de Sakura, mas talvez seja mais adequado falar de uma flor como uma Rosa, tanto a nível de jogo linguístico como a nível sentimental. Falo do novo EP de Rosalía, que conta com a participação do músico e companheiro porto-riquenho Rauw Alejandro, RR, lançado no fim de março. RR é um conjunto de apenas três canções, onde é feito um retrato íntimo do que é o amor, segundo Rosalía e Rauw – daí o duplo R, um voltado para o outro, numa espécie de beijo klimtiano –, ou pelo menos uma porta para a sua vida enquanto casal, de uma casa que podia ser o estúdio.


Musicalmente, RR parece um prolongamento do segundo álbum de Rosalía, que lhe valeu outro Grammy Latino para Melhor Álbum do Ano, já que em 2019 tinha arrecadado o prémio com o seu El Mal Querer – 2019 também foi o ano em que o também vencedor de um Grammy, Rauw Alejandro, lançou o seu primeiro álbum de estúdio, Trap Cake, Vol. 1, embora andasse já no radar desde 2017 – com uma sonoridade mais particular do trap, género que vingou em Espanha e na América Latina de forma efervescente, e mais similar ao som do seu conterrâneo e amigo Bad Bunny (que, aliás, trabalhou com Rauw no tema “Party”, a música que mais ouvi de Un Verano Sin Ti, ainda que reconheça que não é a melhor…).


A colaboração entre o casal pareceu metódica: ora parece menos complexa quando comparada com o trabalho a solo de Rosalía, ora parece mais elaborada quando comparada com o de Rauw. Na busca pelo compromisso musical – o casal, junto desde 2021, também assumiu outro compromisso, de cariz matrimonial, quando vemos o anel de noivado de uma Rosalía em lágrimas, que qualquer fã pode testemunhar, disponível no último frame do videoclipe de “Beso” –, talvez se pudesse sentir Rosalía aquém da expetativa que é projetada numa figura que ficará para a história da Música, latina e internacional, mas não é o caso. A ocasião é bonita e as músicas, uma para cada ano de relação, como explicou a dupla RR em entrevista, têm uma atmosfera diferente, mas contagiante em todo o caso. Em “Beso” ouvimos em uníssono, na bonita junção de vozes de Rosalía e Rauw, “Estar lejos de ti e' el infierno / Estar cerca de ti es mi paz / Y es que amo siempre que llegas / Y odio cuando te vas” num refrão em que somos incapazes de ficar indiferentes, não fizesse isso mesmo o amor a qualquer um.


A segunda música “Vampiros” é uma celebração do trap, numa sonoridade que grita Un Verano Sin Ti, de Bad Bunny, outro disco que se tornou referência na música latina, com um registo do melhor do reggaton. Conta a história de como a noite os aproximou e de como se tornaram donos dela: “Nosotros tenemo' la calle prendía' / Salimo' de noche, llegamo' de día / Mi nena cerca de mí, mi nene cerca de mí / En verda' nunca importó lo quе nadie decía”. A rua, la calle, sabíamos já que era de Rosalía, como cantava na sua canção “Chiri” da versão do Motomami+, como referi na reportagem do concerto de Rosalía no ano passado, mas agora acrescentamos o segundo R.


Assumiram-se como vampiros e seres imortais, mas caso a mortalidade lhes chegue, fizeram as suas promessas e uma jura. “Promesa”, a terceira e última canção que fecha o capítulo de RR, é uma espécie de versão latina de “O prometido é devido”, do R nacional, Rui Veloso (simbolicamente falando), quando, outra vez em coro, os RR cantam: “Una promessa / Nunca es pa' mirar atrás / Si preguntaras / Yo te la volvería a jurar / Como una perla / Que volvió al fondo del mar / Si te perdiera / Sé que te volvería a encontrar”. Para além da comovente analogia, “Promesa” é uma canção que evoca o primórdio da carreira de Rosalía em tempos de El Mal Querer e Rauw no primeiro Trap Cake, o que não deixa de ser curioso já que, em princípio, foi a promessa inicial feita entre o casal que os levou aqui, numa espécie de lógica Everything Everywhere All at Once. E feliz de quem vive numa realidade onde se celebra o amoR com duplo R.



Catarina Fernandes

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