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John Mayer – Sob Rock

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“It´s time to love an album again” é um dos motes que John Mayer utiliza para espicaçar a curiosidade dos ouvintes para “Sob Rock”. O conceito por detrás do álbum parece simples, mas não deixa de ser hercúleo, isto porque Mayer foi em busca de compor um álbum que soasse retro, mas ao mesmo tempo contemporâneo. Pode parecer confuso, contudo, após uma primeira escuta, percebemos que o objetivo foi conseguido.

Em “Sob Rock”, John Mayer inspira-se essencialmente na sonoridade dos anos 80, período em que reinaram as melodias sintetizadas e as baterias eletrónicas repletas de reverb. “Last Train Home”, a faixa de abertura, não podia ir mais ao encontro desses clichés: com a sua melodia tropical tocada no teclado por Greg Phillinganes, o ouvinte é automaticamente levado para 1982, ano em que a banda Toto editou “Africa”, um dos seus maiores sucessos, e que surge aqui claramente como uma fonte de inspiração para Mayer.

“Sob Rock” é um “álbum de estrada”, isto é, está pensado para ser escutado naquelas viagens de carro, sem destino, que resultam muitas vezes em momentos de introspeção em que o ouvinte procura desanuviar e clarear a sua mente. É aí que estas canções de Mayer, muitas delas em estilo de desabafo, devem ser consumidas. Seja através de “Shouldn´t Matter but It Does” e “I Guess I Just Feel Like”, onde surge com uma abordagem ao estilo singer-songwriter dando primazia às guitarras acústicas, ou em “New Light” e “Shot In The Dark”, aqui de volta à estética 80s com os keyboards a fazerem suporte harmónico, “Sob Rock” é um registo onde o músico americano demonstra a sua polivalência ao mergulhar em estilos tão distintos como o country folk ou o disco, sem descorar o pop rock. Do ponto de vista vocal, Mayer não se deslumbra nem procura grandes artifícios, mantém o seu registo médio-grave, por vezes intimista, recorrendo ao falsete para desempenhar certas harmonizações, mas sempre com o intuito de servir a canção da melhor forma possível.

Já em termos instrumentais, poucos serão aqueles que não reconhecem em John Mayer as suas capacidades enquanto solista virtuoso, tendo este já recebido elogios de pares como Eric Clapton e BB King. No entanto, “Sob Rock” dá pouca primazia a essa vertente mais solística de Mayer: com exceção do outro de “I Guess I Just Feel Like”, que é, juntamente com “Gravity”, um dos solos com mais feeling que alguma vez compôs, existem apenas ligeiros apontamentos de destaque, como é o caso do pequeno interlúdio solístico de “New Light” ou do solo à la Mark Knopfler de “Wild Blue”. Se vinham à procura do John Mayer que está presente em “Where The Light Is”, certamente não o vão encontrar aqui.

Mas Mayer não se limitou a abordar a estética oitentista dentro do plano musical, pois também a componente visual bem como a estratégia de marketing por detrás do álbum foram pensadas tendo em mente essa época. A capa do álbum apresenta-nos apenas uma fotografia do artista com a sua PRS Silver Sky em tons pouco exuberantes e o seu nome e o nome do disco numa letra simples à máquina, algo reminiscente de registos da época como “I Can´t Stand Still” de Don Henley ou “Reckless” de Bryan Adams. Quanto à publicidade ao álbum, essa foi feita com o auxílio de grandes billboards expostos por toda a cidade de Los Angeles, visto que esta era uma das formas mais populares e eficazes de promover discos nos anos 80, juntamente com os videoclips que eram transmitimos na MTV. Já em termos de comercialização, o músico optou por editar o disco em quase todos os formatos disponíveis à época: vinil, cassete e CD, ficando apenas a faltar o cartucho. Bem vistas as coisas, podemos dizer que Mayer já não aparenta ser apenas um músico, mas sim toda uma marca com um elevado valor dentro da indústria musical.

Ainda assim, e colocando estratégias de marketing à parte, “Sob Rock” revela ser um álbum competente, mas está longe de ser considerado o magnum opus de Mayer, esse há muito que está reservado a “Continuum”. Cumpre, sim, a sua função enquanto álbum experimental, não pelo seu exotismo sonoro, mas pelo seu caráter revivalista e pela audácia com que John Mayer revitalizou sonoridades antiquadas, expondo-as a toda uma nova geração que, apesar de não ter experienciado os anos 80, sente toda uma nostalgia face a esta década.

Rodrigo Baptista

John Mayer Título do album: “Sob Rock” Ano de edição: 2021 Editora: Columbia Records Duração: 38:26 minutos Produção: John Mayer, Don Was, No I.D. Chad Franscoviak

Palavras-chave: "anos 80"; "pop rock"; "retro"; "guitarra"; “marketing”.

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