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As versões de Taylor Swift: o vermelho da emancipação

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Não é fácil ouvir o nome de Taylor Swift e não ter uma opinião já formada. Tantos a veneram e estão prontos a admirar tudo o que ela possa fazer, outros já têm a certeza de que não gostam da sua música, mesmo antes de a ouvirem. Todos têm uma opinião, fundamentada ou não, e não se espera outra coisa de uma das figuras mais proeminentes e constantes da indústria da música há mais de uma década. No entanto, de algo se pode ter a certeza: é louvável a ideia por trás do último projeto de Swift, as “Taylor’s Versions”.

A pandemia da COVID-19 que avassalou o mundo a partir do início de 2020 não foi motivo de quarentena artística para Taylor Swift. Em apenas seis meses, lançou dois álbuns, folklore e evermore, enquanto iniciava a empresa de regravar álbuns do início da sua carreira. Esta ideia surgiu quando, em 2019, depois de trocar de editora discográfica, perdeu a oportunidade de adquirir os direitos dos seus primeiros seis álbuns, lançados ao longo de treze anos de contrato com a editora Big Machine. Contudo, esta revisitação à própria criação musical não se prende apenas com uma questão legal ou financeira. Pelo contrário, Taylor decidiu reconquistar a liberdade artística que nunca tivera no início da sua carreira.

Nestas novas versões dos álbuns, a inovação não está nas músicas já conhecidas pelo público, visto que as alterações são quase mínimas – as melodias são as mesmas, as letras iguais, e os arranjos não diferem. A inovação está nas músicas “From The Vault”, como lhes chamou a própria artista. Um conjunto de músicas não incluídas nos álbuns originais, canções nunca lançadas que Taylor não esquecera. Em Fearless (Taylor’s Version), há seis músicas bónus que não estavam presentes no álbum de 2008. Em Red (Taylor's Version), os espectadores de Swift deparam-se com um álbum constituído por trinta músicas, nove “From The Vault” e uma duração total de mais de duas horas.

Red é reconhecido por muitos como o ponto de viragem da carreira de Taylor Swift. Lançado em 2012, representa um renascimento da artista, um desenvolvimento do country pop que a tinha popularizado, um passo na direção que pretendia tomar. O título do álbum é revelador do imaginário criado por ela: canta sobre perdas, desgostos, desilusões, heartbreaks. Podemos pensar em Blue, de Joni Mitchell, artista reconhecida por Taylor como uma forte influência na sua música. A cor azul está diretamente relacionada com a melancolia (“blue” pode mesmo designar, na língua inglesa, “triste” ou até “depressivo”), e é isso que Mitchell canta na música homónima, na qual se dirige diretamente à tristeza, logo no primeiro verso: “Blue / Songs are like tattoos / You know I've been to sea before / Crown and anchor me / Or let me sail away”. A admiração por parte de Swift é visível até na capa do álbum, uma homenagem à masterpiece de Mitchell. Mas Taylor Swift não segue o mesmo caminho azul; pelo contrário, escolhe o vermelho. “Losing him was blue like I'd never known / Missing him was dark gray, all alone / Forgetting him was like / Trying to know somebody you never met / But loving him was red”, canta, na segunda música do álbum.

A cor vermelha representa todos os sentimentos intensos que povoavam a vida de Taylor: o sofrimento, a frustração, a confusão da entrada na vida adulta, a inevitável perda da inocência. Encontramos uma autora que não tem medo de se mostrar vulnerável, uma rapariga de 22 anos que canta, de forma catártica, o que está a viver. É esse o ponto forte de Taylor Swift e é aí que se situa a grande fonte de admiração do seu público: a capacidade de construir uma narrativa em torno do próprio crescimento pessoal. Como se a obra completa de Swift fosse um bildungsroman em construção (termo literário que designa os “romances de formação”), como se presenciássemos o desenvolvimento pessoal, emocional e artístico dela, e Red constituísse o momento de tomada de consciência neste coming-of-age.

As “novas” músicas refletem este panorama. Em “Nothing New”, Taylor Swift canta, juntamente com Phoebe Bridgers, sobre a dificuldade de crescer e perceber a instabilidade do sucesso (ou melhor, da fama): “How can a person know everything at 18 / But nothing at 22? / And will you still want me / When I’m nothing new?”. Dez anos depois de tê-la escrito, esta canção continua tão pertinente como nunca. “The kind of radiance you only have at seventeen / She’ll know the way and then she’ll say she got the map from me / I’ll say I’m happy for her then I’ll cry myself to sleep”, cantam as duas intérpretes, parecendo fazer referência a fenómenos atuais como a cantora Olivia Rodrigo que, não escondendo a influência que Taylor Swift tem na sua vida musical, acabou por lhe conceder créditos numa das músicas do seu primeiro álbum, Sour (lançado este ano, aos 18 anos de Rodrigo).

Encontramos o clímax do álbum no final. “All Too Well” foi sempre considerada, desde que saiu, uma das melhores músicas da artista. Em 2021, Taylor Swift decidiu fazer enlouquecer o mundo swiftie e lançar a versão original da música que, por durar dez minutos, tinha sido reduzida para metade em 2012. “All Too Well” é o exemplo perfeito do universo criado pela cantora. Ao longo da música, leva-nos por uma história com início, meio e fim. Serve-se do seu simbolismo tão característico (“But you keep my old scarf / From that very first week / Cause it reminds you of innocence, and it smells like me”) para nos acompanhar pelas suas memórias e sentimentos, enquanto pinta o retrato de uma relação terminada. Durante estes dez minutos, flutuamos ao som da melodia de Swift, como se estivéssemos a ler um conto ou a ver uma curta-metragem. Uma música carregada de realismo, metáforas, visualidade e versos a destacar. Navegamos pelas recordações da autora, comovemo-nos com os seus sentimentos e indignamo-nos com quem a magoou, em versos como “You kept me like a secret / But I kept you like an oath” ou “And you call me up again / Just to break me like a promise / So casually cruel in the name of being honest”. Presenciamos a sua forma de stream of consciousness: em simultâneo, revisita a relação passada e tenta descobrir como ultrapassá-la (“I’d like to be my old self again / But I’m still trying to find it”). A própria descreveu como compôs a letra da música de uma só vez, num dia em que se sentia particularmente amargurada – uma libertação do seu coração no estúdio e na guitarra.

Apesar de ter um nome inconfundível e dificilmente ser desconhecida por alguém, é raro entrar no universo de Taylor Swift e sair impassível. Red (Taylor's Version) revela-se não só melhor do que a versão de 2012, principalmente pelas músicas inéditas, mas também como uma reafirmação do poder artístico da autora. Ao revisitar os seus álbuns iniciais, Taylor Swift lidera os seus fãs através de uma redescoberta da sua própria música, e muitos dos swifties que a acompanhavam nos seus primórdios são os mesmos que agora, dez anos depois, se reencontram em Red (Taylor's Version). Aliás, é essa a beleza da carreira de Swift: esta constante intimidade e sintonia entre a artista e os seus seguidores que, ao crescerem com ela, validam e materializam a magia do seu mundo.



Maria Beatriz Rodrigues

Título do álbum: Red (Taylor's Version) Ano de edição: 2021 Editora: Republic Records Duração: 130'26 minutos Produção: Taylor Swift, Christopher Rowe, Shellback, Aaron Dessner, Jack Antonoff, Elvira Anderfjärd, Dan Wilson, Jeff Bhasker, Jacknife Lee, Butch Walker e Espionage Artistas convidados/as: Gary Lightbody, Ed Sheeran, Phoebe Bridgers e Chris Stapleton

Palavras-chave: “pop”, “country pop”, “dance pop”, “Taylor Swift”.


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