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Música LGBT: Heartstopper – A Banda Sonora

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Música LGBT. Apesar de não poder ser considerado um estilo de música igual aos outros, o campo da música LGBT alberga imensos estilos dentro de si, desde o pop ao indie, e tem vindo a ganhar cada vez mais espaço na cultura mundial. O que todos os temas deste género possuem em comum é o facto de se basearem em histórias únicas e experiências de género vivenciadas por estas minorias sexuais que as transformam num canto de protesto e liberdade sexual.


Devo dizer que considero da mais profunda beleza a forma como a criação artística se alia com o mundo LGBT. Muitos são os artistas, quer sejam musicais ou visuais que conseguem fazer uso das suas experiências de género e transformá-las em obras de arte fora da caixa que fazem com que as pessoas pertencentes a várias minorias sintam que não estão sozinhas e têm alguém que as compreende. É muito importante que comunidades marginalizadas tenham cada vez mais espaço de intervenção na praça pública. “Todas as comunidades marginalizadas e que reclamam a igualdade — e estou a falar de «Black Lives Matter», de LGBTQI, do movimento feminista — trazem questões que não podem ser produzidas na normatividade, só podem ser produzidas nas margens.” – Grada Kilomba


Parecendo que não, os ícones LGBT já vêm desde há algum tempo. Numa altura em que o público LGBT ainda era escasso e a afirmação deste tema em praça pública era rara, talvez um dos primeiros tenha sido o sir Elton John, ou até mesmo George Michael. É preciso recuar algum tempo para ir encontrar um dos grandes hinos PRIDE, como “I will survive” de Gloria Gaylor lançado em 1978. Quem também trouxe muito conteúdo à comunidade LGBT, quer através da sua música, mas também de toda a sua imagem, coreografia, outfits, maquilhagem, carisma e protagonismo foi a rainha do pop Madonna. Ainda hoje clássicos como “Vogue” e “Like a Virgin” são entoados em discotecas gay, bem como usados como cantos feministas. “It doesn’t matter if you’re black or White / if you’re a boy or a girl”.


Já mais recentemente, depois da viragem do milénio, chega-nos outro ícone: Lady Gaga. Em muitas das suas características bastante semelhantes às de Madonna, uns anos antes. O hino “Born this Way” talvez seja um dos maiores êxitos LGBT do século, de mão dada com “Bad Romance”. Com a temática queer a ser cada vez mais aceite pelo mundo mainstream, muitos são os artistas que se fazem ouvir a esse respeito e que possuem uma legião de fãs maioritariamente LGBT, como Ariana Grande, Harry Styles e Billie Eilish, o que faz com que esta comunidade marginalizada se possa fazer ouvir cada vez mais.


Com a ascensão do indie pop, associada a fenómenos como o TikTok, assistimos ao crescimento dos reis e rainhas da música alternativa atual - como Arctic Monkeys, Lana del Rey e The Neighbourhood – através de conteúdo lírico que espelha a frustração e ansiedade vivenciada especialmente por adolescentes da comunidade. “Take Me To Church” de Hozier, é com a história que representa, um dos maiores suportes de apoio para toda a comunidade. Assim como Conan Gray e Troye Sivan, talvez dos mais reivindicativos sobre o assunto.


Para além destes artistas musicais, muitos têm sido os filmes e séries que abordam a temática LGBT. Exemplos como Call Me By Your Name com Timothée Chalamet, Moonlight vencedor de um Óscar de Melhor Filme; Love, Simon que originou a série Love, Victor, o filme belga North Sea Texas, ou ainda dois últimos grandes sucessos da Netflix, Young Royals e, mais recentemente, Heartstopper.


Heartstopper. [SPOILER ALERT] Seguimos para a última série da Netflix que me viciou completamente, que me fez “maratonar” repetidamente episódio atrás de episódio e que arrancou uma quantidade incontável de lágrimas dos meus olhos. Fala-vos uma pessoa que está, neste momento, a ver Heartstopper pela 5ª vez, que comprou os 4 livros da respetiva coleção e já os leu todos (sendo que esta pessoa nem é fã de banda desenhada).


A banda sonora. Na música da série, que, podemos apelidar de música LGBT, dominam as raízes do indie pop e do indie rock, seja do mais triste e depressivo ao mais alegre e divertido, através de vozes sintetizadoras, batidas calmas e leves, histórias de romance complicadas, corações partidos, problemas de saúde mental, frustração, ansiedade, declarações de amor, etc.


No 2º episódio aparece-nos “Why Am I Like This?” de Orla Gartland que me arrisco a nomear a canção mais bem escolhida de toda a série. O título da canção espelha-nos uma frase tantas vezes repetida pelos dois protagonistas, e que se enquadra perfeitamente na forma como a sua história decorre, descreve o estado de espírito de Charlie: “Maybe i’m an old soul trapped in a young body / Maybe you don’t really want me there at your birthday party / I'll be there in the corner, thinking right over / Every single word of the conversation we just had”.


Era imprescindível escolher uma das artistas mais conhecidas dentro do campo da música LGBT, em parte graças à rede social TikTok, já que possui uma legião de fãs maioritariamente LGBT, Girl in Red. É difícil encontrar uma única canção desta princesa da música LGBT que não seja utilizada como uma música de intervenção e protesto PRIDE. Neste caso, ouvimos o seu tema “Girls” no 2º episódio e enquadrado no núcleo da história de Tara e Darcy: “They're so pretty it hurts / I'm not talking 'bout boys, I'm talking 'bout girls / They're so pretty with their button-up shirts / 'Cause I don't know what to do / It's not like I get to choose who I love.”


“I want to be with you” de Chloe Moriondo no final do episódio 5, é outra das músicas mais bem escolhidas da série. Quem já leu a coleção de livros de Heartstopper, sabe que esta música é muito especial e simbólica para Nick e Charlie.


Já no episódio 7, chega-nos “Any Other Way” de Tomberlin, que confesso ser a música de toda a série que mais me chamou à atenção e pela qual fiquei mais grato por ficar a conhecer, pelo seu instrumental de guitarra calmo, a voz doce e o uso de sintetizador que encaixa na perfeição.


A cena final de Heartstopper traz-nos um remix: “I belong in your arms” dos Chairlift, uma excelente escolha para a música de encerramento, dada a sua vibe de indie pop alegre que nos transmite o quão real é o amor de Nick e Charlie.


Não podia deixar passar outros maravilhosos artistas da música indie atual, já com algum reconhecimento, referidos na série como Beabadoobe, Mxmtoom, Dayglow e Wolf Alice com belíssimos temas.


E assim, quando nos chegar a 2ª temporada de Heartstopper, (que com certeza seguirá a história da coleção de livros), talvez possamos esperar umas aventuras por Paris, e, quem sabe, estas tragam um pouco de música francesa aos corações de Nick e Charlie.

 

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