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Recomeçar - Tim Bernardes

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Para os que sofrem de amor, os que são perseguidos pela saudade ou até para os hiperbólicos sensíveis, Recomeçar de Tim Bernardes é o prato ideal. Provavelmente o nome da música brasileira que a mais agrada desde saudosistas até aos jovens que começam a descobrir a música popular brasileira. O paulistano Tim Bernardes, de 30 anos, já constrói desde 2012 uma discografia de alta qualidade e que o colocou em destaque no cenário musical brasileiro. O Terno, sua banda e projeto principal, passeou desde o rock indie-psicodélico até o samba-bossa com construções melódicas totalmente modernas. Mas só em 2017 é que Tim Bernardes deu o primeiro passo largo em relação à sua carreira solo, com o lançamento de seu primeiro álbum Recomeçar.

Numa espécie de desassociação aos trabalhos que tinha lançado pelo Terno, Tim buscou uma nova atmosfera em suas músicas a solo. Em suas próprias palavras: “Eu quis nesse disco fazer o que não costumo fazer nos discos do Terno, que é juntar músicas semelhantes, de uma forma que tenha um arco – não narrativo, mas em que você sente uma atmosfera parecida ali. Nas músicas em si, nos arranjos, que se misturam.” E nessa etérea atmosfera criada por Tim, melodias e narrativa se fundem para irradiarem um tom melancólico com resquícios de esperanças.

Nessa estreia, Tim Bernardes coloca a costumeira guitarra elétrica de lado e dá protagonismo aos dois instrumentos que serão novos traços de estilo em sua consolidação musical: o singelo piano e sua reverberante voz que sempre passeia entre um grave terno e um impactante falsete presente em inúmeros momentos do disco e que exprime toda a sinceridade de seus sentimentos. O álbum começa com a solene introdução da melodia de "Recomeçar", uma construção no piano (que voltaremos a ouvir num outro momento mais para a frente) nos acalanta suavemente numa espécie de preparo para o turbilhão de desilusões e dúvidas enfrentadas pelo nosso cantor/narrador. A transição com um quarteto de cordas nos leva para a minimalista, porém certeira, "Talvez" que percorre as inúmeras indecisões que rondam a mente do eu lírico. Mesmo em pouco tempo de álbum já conseguimos aqui saborear uma versão mais requintada das composições de Tim Bernardes; o próprio que cursou Música na Universidade e aparenta não ter faltado às aulas.

Com o crescer da obra, sentimos em conjunto a dor e fragilidade manifestada nas letras de Tim, dores essas que são carregadas pelo seu inerente (sempre) subconsciente e pela sombra de perder a pessoa amada que é relembrada e até mesmo confrontada durante as canções. Versos como "Não peça tempo para eu te esquecer / Que eu me acostumo, mas eu não te esqueço" ou "Ela sentiu mais do que aguentava / Não quer sentir nada nunca mais" são apenas um gostinho das inúmeras aflições amorosas cantadas com um sentimento do que já foi com uma tentativa de recomeçar e seguir em frente de forma racional. E nessa sub-narrativa as entrelinhas das memórias afetivas com esse amor do passado são sempre acompanhadas pelo minimalismo que explode na hora certa, numa construção do clássico violão acústico até o nascimento belíssimo de harpas, violinos, violoncelos e instrumentos de sopro. A canção "Não" talvez seja o retrato mais digno dessa dimensão, sou suspeito para falar pois é a minha canção favorita e já me pôs a chorar algumas dezenas de vezes, o verso "Eu acredito que não foi por mal / Mas que fez muito mal pra mim, fez mesmo" é, numa pseudo-ideia, o slogan que melhor define as emoções aqui retratadas.

Por último, a metalinguagem da narrativa usada em "As Histórias do Cinema" e "Recomeçar" dão um tom de suspiro pós-lágrimas após o expoente dos nossos sentimentos. Tim Bernardes nos entrega um dos mais belos álbuns da década passada na música brasileira, sem dó entrega um ombro para que possamos chorar desesperadamente, mas por fim, afirma que vai ficar tudo bem.

Dionys Campos


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