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ORCA, a cantautora que exalta o amor como forma de resistência

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Nasceu em Lisboa, cresceu no Algarve e aos 30 anos lançou o seu primeiro disco. Leonor Cabrita, cantautora portuguesa mais conhecida como ORCA, gosta de caracterizar a sua música como “amor e resistência”.


“Falta aqui um trompete”, pensava Leonor quando gravava a canção “Se o Tempo” em conjunto com o produtor musical Bá Alvares, com quem mais ficou mais de um ano a gravar as canções do seu disco. Foi aí que convidou o trompetista Yaw Tembé, da editora Facada Records, que conhecera numa residência artística um ano antes, para tocar com ela. Yaw não só aceitou tocar trompete na canção, como mais tarde convidou Leonor para lançar o disco pela sua editora. E foi assim que, em março de 2023, nos chegou Paisagem Trânsito, o álbum de estreia de ORCA, que contou com a primeira apresentação ao vivo no Clube B.Leza.


“Nunca decidi que queria ser cantora”, começa por contar Leonor, a voz do projeto ORCA, também formado por Catarina Branco, Francisco Menezes, Francisco Braga, Bá Alvares e Miguel Sobral Curado. Leonor começou a estudar música aos 10 anos, até ter completado o 5.º grau do Conservatório de Música no Algarve em Piano e Formação Musical. Ao longo de cinco anos, foi membro do Coro do Conservatório de Albufeira, dirigido por Ian Mikirtomov. Desde pequena, lembra-se de ouvir a sua mãe, que fez questão de a ajudar e incentivar a estudar música, dizer: “tu sempre foste artista”.


Depois de se licenciar em Artes do Espetáculo na Universidade de Lisboa e de uma curta passagem por um mestrado em Gestão Cultural, sentiu falta da música e aos 23 anos inscreveu-se no Curso Regular da Escola de JAZZ do Hot Clube de Portugal, em Piano e Voz.


Nunca na vida deixou de cantar e compor. Descreve o seu processo criativo como aleatório e muito ligado à expressão de emoções que não sabe transmitir “de outra forma”. Sempre compôs na língua de Camões, acha que escrever em inglês não é a sua expressão. Geralmente, escreve primeiro as letras, e mais tarde procura as melhores harmonias ao piano, tendo como objetivo que a sua música seja muito honesta, por mais estranha que soe.


Também já escreveu muitas canções das quais acaba por não gostar tanto ao início, e prefere não as lançar e deixá-las na gaveta. Leonor sente-se assoberbada quando consegue acabar uma canção, explica que o momento de “expelir uma canção é muito especial”. Houve vezes em que quando acabou de escrever uma canção, pensou: “Eu nunca mais vou conseguir escrever uma canção”. Descreve esta sensação como aliviante, como se pudesse novamente respirar fundo.


“Nunca escrevi [uma canção] a pensar numa pessoa”, afirma, embora revelando que gosta de escrever para outros artistas. Leonor escreveu o single hyperpimba “Turn off”, produzido por Conan Osíris e oferecido a Sreya. Por outro lado, confessa que escreve canções que sente que não devem ser interpretadas por ela porque não se enquadram esteticamente em si.


Aos 30 anos lança o seu primeiro álbum a solo Paisagem Trânsito com 13 faixas, depois dos primeiros singles “Ainda Queremos ser Pessoas” e “Gorgulho”. Sabe que atualmente “há muita pressão para se fazer tudo cedo”, mas defende que as coisas levam o seu tempo. “Não é tarde nem cedo, [o álbum] veio no tempo dele.”


O seu primeiro álbum de originais vem de uma onda art pop, trazendo uns tons de jazz de mão dada com uma marca folk típica portuguesa. Sabe que a música que faz se enquadra mais no espectro português alternativo, que agrada à sonoridade da Antena 3 e da Rádio Futura. Não pensa em fazer música para o público a que chega ou para o que vende mais, faz a música que sente que precisa de fazer, independentemente de as pessoas gostarem ou não. “Se as pessoas gostarem fixe, se não gostarem, fixe”.


Há quem diga que “a música de Orca poderia enquadrar-se tanto em listas do 25 de Abril como do 14 de fevereiro. Não tanto na rua de punho cerrado nem tanto a comprar chocolates em forma de coração, mas numa vertente introspetiva a carregar as dores do mundo e do coração”. E a voz de Leonor possui alguma melancolia que se enquadra nas temáticas da saúde mental de que fala nas suas letras, que quase soam a poesia.


O conteúdo das canções anda à volta das ideias de “amor e resistência”. Palavras que a cantora acha que refletem imenso a sua personalidade e a sua forma de viver. “Resistir a tornarmo-nos pessoas cínicas que não acreditam nos outros, a tornarmo-nos pessoas céticas, resistir a desconfiar”. Acha que “as pessoas têm relações com reservas, com medo de confiar”, e para si, as relações só podem vir deste sítio, da resistência. A resistência de que fala também se aplica às lutas contra a opressão e a desigualdade, por mais direitos. “Resistir à precariedade, a tudo o que nos oprime”, apoiando “a capacidade de união e de luta coletiva”. Uma luta coletiva numa sociedade capitalista que acredita que nos faz competir uns contra os outros e nos obriga a ser os maiores. Com isto, Leonor não quer dizer que se desculpe tudo, pois há coisas que não podem ser postas em causa, como os direitos humanos. A solução para tal só pode ser a resistência, a união e o “amor como forma de resistência”.


Não é fã de formalidades. Em todo o seu trabalho, preza sempre a informalidade com todos os seus colegas. “São só pessoas a querer fazer coisas juntas, a entreajudarem-se, no sentido de comunidade”, diz Leonor, descrevendo a relação que tem com todos os músicos e colegas com quem se relaciona no seu dia-a-dia. Acredita que a informalidade, que tanto preza, se relaciona imenso com o seu mote de luta e união coletiva. “Aprende-se sempre com todas as pessoas, ao ouvir as letras, e as perspetivas dos outros.” Os seus amigos também são uma fonte de inspiração para a escrita das suas canções. “A inspiração está em todo o lado, está nas pessoas, na vida, no teatro, num bar às 4 da manhã.”


Durante os estudos no Hot Clube, começou a dar aulas, mantendo-se ainda hoje como professora de canto por conta própria. “Dar aulas obriga-me a estudar, algo que se calhar eu não faria tão regularmente”, explica Leonor, que mantém a vontade de continuar a dar aulas nos próximos anos. “Ensinar tem muito a ver com ajudares as pessoas a encontrar o seu caminho e a sua forma de expressão”. Sendo o trabalho artístico muito precário, Leonor reconhece que dar aulas lhe dá alguma estabilidade, argumentando até que atualmente grande parte dos músicos opta por dar aulas.


Com dificuldade em nomear as suas principais referências, dada a sua infinidade, admite que nutre muita admiração por ícones brasileiros como Chico Buarque e Tom Jobim. Ultimamente, têm-se sentido apaixonada pela música catalã e por nomes como Lucia Fumero e Marina Herlop, que já teve oportunidade de ver ao vivo, ambas pianistas. Quanto a nomes nacionais, revela que é inspirada pelas “letras incríveis” de artistas de música de intervenção como Sérgio Godinho e José Mário Branco. E não deixa de sublinhar que continua a ser inspirada por amigos seus que também são músicos, como é o caso de Chica, com quem possui várias semelhanças líricas e estilísticas.


Acima de tudo, Leonor quer continuar a fazer música perto das pessoas de quem gosta, prometendo continuar a escrever e a compor. Novas canções de ORCA estarão por vir, que certamente irão marcar presença no panorama da música alternativa portuguesa.





Jorge Tabuada





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