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O Mundo Fantástico de João Borsch

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Haraquíri[1] - |quirí|

( ha·ra·qui·ri )

nome masculino

Forma de suicídio de honra, praticado especialmente entre guerreiros japoneses, que consiste em abrir o ventre. =HARAQUÍRI

 



Depois de Uma Noite Romântica com João Borsch, o músico madeirense João Borsch está de volta com o álbum É só Harakiri, Baby.


Em É Só Harakiri, Baby, vê-se uma enorme liberdade artística e vontade de explorar novas texturas, ambientes, arranjos e estilos musicais. Numa entrevista ao Jornal I[2], João Borsch refere que “Para fazer este disco aceitei que iria ser eu até de uma forma que podia ser um pouco alienadora. Quis fazer um disco que só eu poderia gostar”. É Só Harakiri, Baby é um disco pop onde há um pouco de (quase) tudo. Há músicas com uma instrumentação profusa e pujante, outras verdadeiramente minimalistas. Há músicas que são puros bangers da música eletrónica e faixas numa onda mais experimental. É um álbum de excessos sobre excessos. É arrebatador, irónico, intenso.


Ao longo deste que é o segundo álbum do cantor, baterista e compositor, acompanhamos o percurso de uma personagem que leva uma vida de devassidão, vícios e excessos. É feita uma reflexão na primeira pessoa sobre as dores dessa vida hedonista neste disco que, segundo comunicado da promotora, “explora os vícios, as suas consequências, a introspeção e o medo paralisador de se ser vulnerável”[3]. A personagem sem nome está a autodestruir-se de uma forma consciente4 e o sofrimento que advém das suas ações é autoinfligido, tal como é sugerido pela palavra “Harakiri” no título do álbum.


João Borsch ofereceu-nos um puzzle de 14 peças e convida-nos a fazer a nossa própria interpretação deste álbum conceptual ou, pelas palavras do próprio músico, deste “musical art pop[4], que difere de um disco convencional por ter uma narrativa definida, tempo, espaço e personagens. Em vários momentos, dei por mim a percorrer comentários nos vídeos de Youtube e no Genius e a cuscar o Twitter de Borsch, à procura de diferentes interpretações e mais pistas para compreender aquele enigmático mundo que João Borsch criou e que teve a generosidade de partilhar.

 

Apesar de temas como “Nunca Consigo Recusar”, “Apaz” ou “Ele Morre no Fim” serem músicas autónomas, na medida em que a nível musical fazem todo o sentido quando ouvidas de forma descontextualizada, escondem subtis pormenores que enriquecem este álbum de art pop. Na verdade, ouvi “Nunca Consigo Recusar” antes de ouvir o álbum completo e, depois de ouvir É só Harakiri, Baby de uma ponta a outra, foi surpreendente ver os novos significados que os versos desta música ganhavam quando enquadrados na narrativa que foi sendo construída faixa a faixa.


Este tema, que é o terceiro single do álbum, é acompanhado de um videoclipe, realizado por João Morgado, que está em completa sintonia com o ambiente inusitado, obscuro e também requintado de É só Harakiri, Baby e que ilustra de forma sagaz os lugares, enigmas e ambientes evocados pelas palavras de João Borsch. De facto, o universo narrativo que o cantor e compositor imaginou, e que gravita em torno das 14 músicas que compõem É só Harakiri, Baby, é alimentado por um conjunto de elementos extramusicais – videoclipes e visualizer, fotografias.


“Nunca Consigo Recusar” é, para mim, uma das melhores músicas portuguesas lançadas em 2023, mas o álbum está repleto de temas imperdíveis: “Eu Não Te Mereço”, a balada mais sanguinária de sempre que poderia ser a banda sonora de um filme do Tarantino; “Jardel”, o grande momento luciferiano do disco, onde ouvimos um monólogo do Diabo, brilhantemente interpretado por João Roque, vocalista da banda Mordo Mia; “Pólvora”, a música que toda a gente quer dançar às sextas-feiras à noite; “Apaz”, talvez a minha música preferida do álbum.


Como seria de esperar, recomendo a audição deste disco, do início ao fim. O desafio é simples: usufruir destes mágicos 42 minutos como se de uma história se tratasse.




Sara Madeira Cal




[1] Retirado de Priberam da Língua Portuguesa , https://dicionario.priberam.org/haraquiri

[2] https://ionline.sapo.pt/artigo/801994/joao-borsch-neste-disco-aceitei-que-iria-ser-eu-sem-precisar-de-pedir-desculpa-ou-licenca-a-alguem?seccao=Mais_i

[3] https://comunidadeculturaearte.com/ja-se-pode-ouvir-o-segundo-disco-de-joao-borsch-um-album-sobre-o-medo-paralisador-de-se-ser-vulneravel/

[4] https://antena1.rtp.pt/video/joao-borsch-apresenta-novo-album-na-antena-1/



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