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Bates Forte Cá Dentro: uma adolescência DIY

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A Xita Records é uma das editoras de destaque dos últimos anos na cena independente de Lisboa. Formada por um grupo de amigos em 2015, tem vindo a editar discos de artistas como Primeira Dama ou VEENHO e a realizar eventos como as Noites Xita na Galeria Zé dos Bois, com 5 edições até à data.


Neste contexto, nasce o projeto Ninaz, uma banda que surge nos primórdios da Xita a partir da amizade e não necessariamente da experiência musical. Lucía Vives (bateria), Margarida Honório (guitarra), Beatriz Peres (baixo) e Joana Peres (voz) estreiam-se com este projeto no mundo da música, presenteando-nos com um conjunto de canções divertidas, livres das restrições formais que tantas vezes limitam a criatividade de artistas.


As Ninaz aparecem editadas pela primeira vez no début da editora, Um EP Xita Records (2016), que junta canções de Lucía Vives, Manel Lourenço (Primeira Dama), João Raposo, entre outros. Uma das faixas deste EP é “Primavera”, que mais tarde volta a aparecer no primeiro e único disco das Ninaz – Bates Forte Cá Dentro.


Lançado em maio de 2018, Bates Forte Cá Dentro é um conjunto de canções a ser estimadas, um tesouro para quem tiver a sorte de as encontrar nestes dias, numa altura em que as Ninaz já não tocam e projetos com uma jovialidade e genuinidade semelhantes são raros. É um retrato de tudo o que se quer da cena independente e DIY – são miúdos a criar música de forma caseira, a apostar numa abordagem crua e direta e, acima de tudo, a divertir-se.


As 14 faixas do disco, gravadas entre 2017 e 2018 na Interpress (berço geográfico de inúmeros discos icónicos da música independente de Lisboa), casam perfeitamente uma atitude e sonoridade punk com canções pop, simples e bonitas. Bates Forte Cá Dentro está recheado de letras que ilustram a vida de um jovem na cidade, com referências aos espaços e trajetos de Lisboa, nomeadamente nas músicas “Santa Clara” (“e com esta correria / amanhece mais um dia / em Santa Clara a conversar”) e “À Pendura” (“a caminho dos Prazeres / 28 à pendura”; “sexta vou à Z e já nem te digo nada / não é por ti, amor, que Lisboa está parada”).


O álbum aborda também, na sua natureza coming of age, temáticas de amor e desamor, amizade ou mesmo identidade. Com uma abordagem direta, entrega-nos versos como “com esta idade já sabias muito mais / com 18 anos / quem é que tem noção do tempo / ou o que é desperdiçar”, em “Viver na Praia”, reflexões que muitos de nós já sentimos. Também na canção seguinte, “Sol está Frio”, encontramos linhas como “quanto mais falo mais parece / inútil de falar”, seguida pela repetição de “o sol ‘tá frio / dá-me o teu umbigo”. Estas letras culminam, no meio de um instrumental frenético, em “João, bates forte cá dentro”, frase que dá nome ao disco.


Para quem ainda não estiver convencido, há ainda espaço para faixas mais únicas, e certamente cativantes.  “We’re Never” desabafa, na sua primeira metade, sobre uma relação passada, claramente uma experiência negativa: “tu foste uma merda / tu foste mesmo merda / não estou aqui só p'ra ti, eu não sou de ninguém”. Já na sua segunda metade, faz uma referência icónica da cultura pop, utilizando as letras de “We Are Never Ever Getting Back Together”, hit de Taylor Swift: “you go talk to / your friends talk to / my friends talk to me / but we are never ever ever / getting back together”. Já em “Pão c/”, deambulação que fecha o disco, ouvimos inicialmente uma anedota, no caso uma piada seca e contada de forma um pouco confusa, que é sucedida por um rap de Lucía Vives, em espanhol, sobre pão com manteiga (ou “pan con mantequilla”), na Galeria Zé dos Bois.


A capa que ata todas estas canções foi elaborada por um elemento da Xita, Qalgon, que de forma abstrata consegue captar o espírito de Bates Forte Cá Dentro, possivelmente por estar tão envolvido, como colega de editora, na formação das Ninaz. A produção do disco, dividida entre Filipe Sambado, Primeira Dama e João Raposo, assim como a masterização de Leonardo Bindilatti (Cafetra Records), indica mais uma vez a sua contextualização na cena independente de Lisboa.


Bates Forte Cá Dentro pode não ser o disco mais conciso, mas há pelo menos uma certeza – não é um disco aborrecido. É uma viagem divertida, e acima de tudo um marco da Xita Records, que continua a trazer-nos edições que refletem os seus valores de independência, como é o caso do mais recente Lofizera, de VEENHO.


As Ninaz deixam registado neste álbum um pequeno retrato da cena musical independente de Lisboa entre os anos 2015-2018, um período onde surgiram novas editoras, colaborações e eventos recordados com carinho em espaços icónicos como a ZDB ou as Damas. Agora, resta-nos estar atentos a quem poderá estar a fazer algo semelhante neste momento, antes que passe a memórias acarinhadas.




Afonso Mateus




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