As CRIATURAS de Rita Onofre

É natural de Oeiras, tem 27 anos, e desde pequena mostrou interesse pela música - Rita Onofre deu-se a conhecer este ano Festival da Canção e é uma das grandes promessas entre as cantautoras de língua portuguesa.

Começou a aprender guitarra aos 10 anos por influência do pai, e aos 12 anos compôs a sua primeira canção em inglês. Tirou o curso de Produção e Tecnologias da Música na ETIC, começou a ter aulas de canto com a cantora Joana Espadinha, passou pela Escola de Jazz Luís Vilas Boas e ainda tirou uma licenciatura em Estudos Artísticos na Universidade de Lisboa. Mas o seu percurso não ficou por aqui.

O lançamento da sua carreira enquanto cantora e compositora começou quando fundou a banda de indie pop Sease, juntamente com os oeirenses Miguel Laureano (Choro) e Gonçalo Vasconcelos. A banda lançou o EP When Lost at the Ocean, a Fellow Comes Out em 2016, todo cantado em inglês, onde sobressaem inspirações de Rita em Bon Iver, uma das suas grandes referências. Canções curtas, alternativas, maioritariamente instrumentais, e com toques sintetizadores e eletrónicos é o prato do dia deste EP, protagonizado pela faixa “Alone Together”, que chegou a algumas rádios como a Vodafone, Antena 3 e TSF.

Mas foi durante a pandemia, quando começou a ouvir mais música portuguesa como Joana Espadinha e Jura, que começou uma carreira a solo a editar originais em português. “Haja Sempre” foi o primeiro single, em 2020, seguido de “Ao Pé de Mim”, que foi integrado nos Inéditos Vodafone 2020, e “À Porta”, que fez parte dos Novos Talentos Fnac 2021. Todos estes temas integraram o seu primeiro EP a solo, Raiz, lançado em 2021.

Em 2022, integrado no projeto AVALANCHE, apresenta-nos “Neblina”, em colaboração com Luar e Sara Cruz, e “Corpo ao Mar”, em colaboração com LEFT., dois dos seus temas mais catchy, modernos e progressistas, com claras influências hip-hop e eletrónicas.  Rita já colaborou também com outros nomes da música portuguesa como Ana Cláudia, Elisa Rodrigues e Iolanda, sendo que algumas das canções estão ainda por lançar.

O seu primeiro álbum longa duração, hipersensível, chegaria no início de 2023, não sem antes nos deliciar com dois singles “Perdoei”, talvez a canção mais alegre do álbum, e “Rancor”, que mostra como trazer sensibilidade a um sentimento agressivo. 10 canções hipersensíveis, honestas, autobiográficas, puras, cruas e mais pop acústicas cantadas à guitarra. “Encosta a porta de mansinho / Não traz respostas, vem sozinho / Se despe a paz, deixa os planos cair / Silêncio, tela para te ouvir” é o início hipersensível de “Passo”, um dos melhores temas do álbum, ao lado de “Curto Prazo” em dueto com miguele, o único feature do álbum e uma das minhas favoritas pessoais. 

Até que o nome de Rita Onofre é finalmente dado a conhecer a um grande público quando é apresentada como uma das 20 participantes do Festival da Canção 2024. Já tinha tentado concorrer ao Festival nos anos anteriores, mas foi em 2024 que a sua canção foi selecionada na livre submissão.

“Criatura” é o nome da canção que interpretou em palco de outfit branco e sentada numa cadeira, e com a qual chegou à final e alcançou o 8º lugar. Esta mostra ser uma canção mais forte e produzida, quando comparada com as faixas do anterior hipersensível. “Criatura”, que começou inicialmente por se chamar “Carta a Mim”, é uma canção libertadora, como meditar para tirar um aperto no peito ou um nó na garganta, sobre uma criança constantemente em estado de ansiedade. Até chegar o verso chave da canção: “O tempo parou / já não sente medo vergonha de nada”. Assim, Rita consegue com a sua voz fazer-nos sentir a sua dor, ao mesmo tempo que traz imensa garra e força nas suas canções. Esta semana Rita encantou-nos com o simples e lindo videoclipe de “Criatura”, muito semelhante à estética utilizada na sua performance ao vivo.

Na discografia de Rita é notório o seu uso por melodias improvisadas nos interlúdios e canções como o “uh-uh-uh” em “Rancor”, “ta-ta-ya-ya-ta” em “Perdoei”, até que atinge o seu auge com o mítico “AYA AYAYAYAYA” de “Criatura”, a parte mais libertadora da canção.

A 3 de Fevereiro do presente ano, Rita Onofre apresentou-se ao vivo no Musicbox acompanhada nas guitarras por miguele e Ned Flanger, depois de já ter passado pelo Palco Coreto do NOS ALIVE, pela Casa da Música e pela Galeria Zé dos Bois. O que é certo é que a carreira de Rita Onofre tem tudo para progredir com muito protagonismo no panorama musical português, a começar já com um concerto no próximo dia 30 de abril no BOTA Anjos em Lisboa.

Jorge Tabuada