top of page

Sour Girl Summer: Frente a frente de “HISS” e “Big Foot”.

6f5c06b1-cb90-4b11-93e7-5450958e2fe4.jpg

Desde 2019 que circula o rumor de que duas das artistas do rap mais proeminentes do momento, Nicki Minaj e Megan Thee Stallion, estão em briga, no seguimento do lançamento do single em conjunto, “Hot Girl Summer”. Não era sabido ao certo a razão pela qual esta disputa começou, sendo que sempre foi mais exacerbada do lado de Nicki Minaj. Os fãs de ambas as artistas partilharam várias teorias ao longo dos anos, desde a colaboração de Megan em “WAP” com a artista Cardi B, que famosamente se envolveu numa disputa física com Minaj em 2018, até razões mais dúbias, como a ideia de que Nicki se sente menosprezada pela indústria musical a nível de reconhecimento. Apesar do estabelecimento de Minaj no rap e das suas recorrentes nomeações para os Grammys, a artista nunca premiou nesta cerimónia, comparativamente a Megan Thee Stallion, que já trouxe para casa três Grammys com uma carreira bastante mais curta.


Contudo, a briga chegou a ponto de ebulição no passado dia 26 de janeiro, com o lançamento do novo single de Megan, “HISS”, o segundo lançado para promover o seu próximo álbum. Não era incomum Nicki Minaj dar diss na artista Megan ao longo dos anos, estando presente, por exemplo, numa das duas canções mais recentes, “Red Ruby da Sleeze”, do seu último álbum Pink Friday 2. Neste tema pode ouvir-se um diss menos assumido que remete para a rapper Megan, onde Nicki diz “But I don't fuck with horses since Christopher Reeves (Uh-oh)”. Nicki está a referir-se a um incidente do ator Christopher Reeves em 1995 (também o ano de nascimento de Megan), onde ficou paralisado numa competição equestre: aqui Nicki utiliza a história do ator para fazer aludir a Megan, dizendo que não se envolve com ela, através do trocadilho entre cavalo e Stallion. O single “HISS” foi a gota de água na disputa, sobretudo para Nicki Minaj, que após ouvir a canção lançou-se numa tirada contra Megan nas redes sociais, incluindo também o lançamento de uma canção endereçada para esta, “Big Foot.” Mas o que contém “HISS” que tenha perturbado tanto a denominada “Rainha do Rap”?


O segundo single do novo álbum chega num momento crucial da carreira de Megan, em grande parte por marcar o segundo lançamento da sua record label independente, Hot Girl Productions. “HISS” começa com um segmento falado, dizendo:


“I just wanna kick this shit off by sayin' fuck y'all /

I ain't gotta clear my name on a motherfuckin' thing /

Every time I get mentioned, one of y'all bitch-ass niggas get twenty-four hours of attention /

I'm finna get this shit off my chest and lay it to rest, let's go”.


Esta canção é a forma de Megan não só dar clap-back àqueles que estão constantemente a mencionar e criticar a artista, mas também se assume como uma retrospetiva da sua vida e carreira, assumindo um tom confiante e poderoso. O génio desta canção não passa só por referências astutas, o flow inconfundível da rapper ou até a ausência de um hook na canção, mas ainda pelo facto de que Megan escolheu não fazer nenhuma menção direta a nenhuma pessoa nos seus disses, ficando estes dependentes da interpretação do ouvinte, num jeito de “se a carapuça te serve”.


O que realmente causou furor com este single foi o verso “These hoes don't be mad at Megan, these hoes mad at Megan's Law”. Megan’s Law é uma lei federal dos EUA, que explicita que as forças policiais são obrigadas a divulgar informação ao público sobre agressores sexuais registados no sistema legal, nomeadamente a divulgação de informações pessoais desses indivíduos como a sua morada, devido a proximidade a escolas e afins. Este verso foi especialmente pungente para Nicki, que no jeito de um personagem de cartoon escorrega na banana de Megan e “enfia a carapuça”, alegando que Megan está a difamar a sua família, mesmo sem nenhuma menção direta. Nicki veio imediatamente para as redes sociais falar sobre “HISS”, chegando até a proferir num Instagram Live:


“You bringing up 30-year-old tea from when this man was a 15-year-old child. You bringing up 30-year-old tea cause no man will ever fucking love you, and lying on your dead mother.”


O “beef” de 30 anos a que Nicki se refere foi o julgamento do seu marido, Keneth Petty, por tentativa de violação quando este tinha 16 anos. Este foi declarado como culpado e resultou no seu registo enquanto agressor sexual, que se junta a outros registos dentro da família de Minaj, sendo que o seu irmão, Jenali Maraj, também se encontra na mesma situação depois de ter sido acusado e declarado culpado de violação repetida da sua enteada de 11 anos na altura, estando a servir uma sentença de 25 anos a perpétua desde 2017.


Nicki Minaj também se encontra num momento crucial da sua carreira, talvez por razões opostas a Megan. Nicki já está mais que estabelecida no meio musical, mas tem tido alguns percalços, nomeadamente a situação dos seus membros familiares e a sua defesa incorrigível deles, que já foi amplamente criticada por estar a perpetuar a defesa de agressores e descredibilização de vítimas, sendo que um dos escândalos em que Nicki se encontra envolvida com o seu marido é o facto de eles terem pressionado a vítima de Keneth para ela mudar a sua história de modo a não o incriminar. Nicki também já esteve debaixo do fogo pela defesa do seu irmão, tendo inclusivamente pago a fiança da prisão aquando da sua acusação inicial. Estes percalços de Nicki não têm sido tão viralizados como seria de esperar, até porque o poder de Nicki vem também da sua grande influência nos seus fãs e a sua comunidade feroz e defensiva. Os seus fãs, barbz, são conhecidos por terem grande poder, tomando como exemplo o ciclo promocional do último álbum de Minaj, que foi quase exclusivamente carregado pelos fãs, com a criação de uma nação fictícia toda idealizada por ferramentas de inteligência artificial, a chamada “Gag City”, que certamente teve um grande envolvimento no sucesso e promoção de Pink Friday 2. A ferocidade dos barbz não fica despercebida, não sendo incomum ver esta base de fãs a ser extremamente defensiva da sua “mãe”, Nicki Minaj, tendo inclusivo já tomado medidas exageradas como doxing. Este termo refere-se à divulgação pública de informações pessoais de indivíduos, como números de segurança social e moradas, tendo sido observado mais recentemente na situação de Megan, onde foi divulgada a morada do cemitério onde a sua mãe se encontra sepultada, havendo barbz online a fazer alusão a profanar a campa ou a dançar em cima desta, o que resultou num aumento das medidas de segurança do cemitério. Mas no final de contas, o que respondeu mesmo Nicki na sua canção “Big Foot” à suposta difamação que Megan Thee Stallion lhe fez?


“Big Foot”, tal como Ícaro, quis voar demasiado perto do sol e acabou por queimar Nicki Minaj. A rapper veio para as redes sociais anunciar a diss track de resposta a Megan, inclusive mostrou alguns dos versos e  tentou empatar os fãs sobre o lançamento da canção devido a permissões sobre a utilização de um sample. Ouvir “Big Foot” foi uma grande desilusão, não só devido à má construção e falta de interesse da canção, mas também pelas suas letras, que não têm de todo a pungência e inteligência que os fãs esperam de Nicki enquanto artista nesta altura da sua carreira. Os ataques que Nicki têm para Megan não carregam poder como se revelou em “HISS”, talvez porque Nicki se apoia largamente em golpes baixos. Estes vão de instâncias como a ridicularização do incidente entre Megan Thee Stallion e Tory Lanez, que resultou em Megan ter sido atingida por um tiro no pé, vindo deste incidente o nome da mais recente canção de Nicki Minaj, aliado ao facto de Nicki também fazer pouco de Megan por esta ser alta:


“Bad bitch, she like six foot (Ooh), I call her Big Foot (Brr) / The bitch fell off, I said, "Get up on your good foot"


Ainda pior é as suas alusões à morte da mãe de Megan, que faleceu em 2019 com um tumor cerebral. Não só a invocação da mãe de Megan é uma falta de respeito colossal, mas também surgiu como uma surpresa para muitos, dado que o pai de Nicki também faleceu e esta rapper ficaria certamente lívida se Megan tivesse invocado o seu pai na sua canção. Nicki diz, entre outras coisas:


“How you fuck your mother man when she die? / (…) Swearin' on your dead mother when you lie (Ayo)”


Não só Nicki diz que as mentiras que Megan diz “ofendem” a sua mãe morta, como também Nicki tenta alegar que Megan se envolveu com o namorado da sua mãe após o seu falecimento. Os versos de Nicki em “Big Foot” mal se aproveitam, contendo imensas alegações que não se podem comprovar, até “insultos” completamente estapafúrdios como dizer que ela é alta ou que ela é tão pobre que só pede batatas pequenas no McDonald’s. Outras acusações graves que Nicki faz na sua música é alegar que Megan “roça-se em menores” e que coagiu Nicki a beber numa altura em que alegadamente esta estava a tentar engravidar, sendo que nenhuma destas alegações conseguiu ser comprovada até agora.


“Big Foot” foi um grande passo atrás para Nicki, não só pelos seus ataques infundados como também por apresentar uma música tão díspar e inferior a tantos dos seus lançamentos anteriores. “HISS” voou até ao número 1 no Billboard Hot 100, dados do dia 10 de fevereiro de 2024, constituindo a terceira vez que uma rapper feminina tem uma estreia a solo no topo da lista da Billboard. Este sucesso deve-se não só ao próprio mérito da canção em si, mas também ao exacerbamento da publicidade desta canção, devido à promoção indireta que Nicki lhe fez. Tal como dizia Doja Cat na sua canção “Attention”:


“But ain’t the bad press good?”


Megan tem saído triunfante até agora desta disputa porque, contrariamente a Nicki, Megan renunciou-se ao silêncio, deixando que Minaj faça o trabalho de sujar a sua própria imagem. Muitos fãs de Nicki estão a desertar a cantora depois do fiasco da sua última canção, para além da contínua atitude de defesa de Nicki da sua família perante atos de violência sexual e as suas tentativas de descredibilizar a vítima do seu marido. Certamente este não será o último desenvolvimento desta briga, sendo que esta também abre espaço para a velha discussão do mundo da música quando um artista faz um ato reprovável: é possível separar a arte do artista?




Patrícia Moreira



CONTACTOS

  • Facebook
  • Instagram
  • YouTube
  • Spotify
Os textos, artigos e imagens publicados neste website são propriedade exclusiva dos seus autores.
Para citar qualquer um dos elementos referidos dever-se-á indicar o nome do/a autor/a, o título do texto e de qualquer outro elemento, e referir o nome do website onde se integram.
A cópia, modificação, reprodução, distribuição ou outro uso desses elementos é interdita, salvo autorização expressa dos respetivos autores.
logo_final-removebg-preview_edited.png

Faz parte deste projeto enviando-nos uma mensagem!

Obrigado!

Obrigado pelo envio!

bottom of page