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Heaven :x: Hell, Sum 41 e a arte de sair de cena no topo da carreira

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Costuma-se dizer que todas as coisas boas têm um fim. No caso dos Sum 41, esse fim foi anunciado de forma totalmente inesperada e prematura.


Após 28 anos de banda, o vocalista, guitarrista e fundador, Deryck Whibley, decidiu, depois de muita reflexão, que estava na hora de encostar a guitarra e o tripé do microfone e canalizar toda a sua energia juvenil para outras atividades às quais até então nunca tivera tempo para se dedicar. “Não é uma desaceleração – na verdade é mais uma aceleração”, explica numa entrevista à revista britânica Kerrang. “Sinto que quero fazer mais. Parece que fazer a mesma coisa repetidamente, embora tenha sido ótimo e um privilégio, fez-me questionar: ‘Será essa a única coisa que farei – um álbum e depois uma turnê, repetidamente?’”.



Com a ideia a circular na sua mente de forma intermitente, Deryck sentia que se o fim dos Sum 41 fosse mesmo para a frente, este tinha de ser acompanhado de um álbum decisivo que representasse toda a carreira da banda e ilustrasse as suas diferentes fases sonoras. “Muito disso aconteceu por acidente”, refere Whibley sobre os primeiros passos dados para a composição de Heaven :x: Hell – o derradeiro álbum dos Sum 41. Durante a pandemia, o pop-punk, género que consagrou os Sum 41 como estrelas mundiais, assistiu a um revivalismo no mainstream. Machine Gun Kelly, com o seu álbum Tickets To My Downfall, editado em 2020, foi o artista que liderou este movimento musical que, passados 20 anos, voltou a colocar o género nas bocas do mundo. Seguiu-se o lançamento de mais álbuns influentes como Weird (2020) de Yungblud, Internet Killed the Rockstar (2021) de Mod Sun e Sour (2021) de Olivia Rodrigo, todavia foi a rede social do momento, o Tik Tok, que fez com que este género fosse introduzido a toda uma nova geração através de trends que se tornaram virais com músicas de bandas emblemáticas como Blink-182, All Time Low, Simple Plan e Paramore.


De um momento para o outro, o pop-punk era novamente gigante, e para as bandas da chamada “velha guarda” aquele era o momento para aproveitar o interesse renovado no género e dar um boost à sua carreira.


Naturalmente que, com este revivalismo, rapidamente começaram a chover solicitações a Deryck e aos Sum 41 para voltarem a compor hinos pop-punk ao estilo de malhas como “In Too Deep” e “Still Waiting”. Porém, há muito que a banda abandonara esse estilo em favor de uma sonoridade mais pesada e próxima do metal, e Deryck temia que já não estivesse na posse dessa fórmula mágica. Ainda assim, decidiu arriscar, e foi ao escutar novamente NOFX, Pennywise e Bad Religion, bandas da sua adolescência, no carro com o seu filho, que as ideias começaram a fluir e os riffs, à la All Killer No Filler e Does This Look Infected? a surgir.


Ao mesmo tempo que trabalhava nas composições novas, Deryck foi ao encontro de algum material deixado de parte nas sessões de Order In Decline (2019), cuja sonoridade remete para a fase mais pesada da banda já acima referenciada. Quando o músico terminou essas primeiras faixas, apercebeu-se de que tinha na sua posse dois polos sonoros distintos que não iriam resultar de forma articulada num único álbum. Ciente da qualidade do material, Deryck rapidamente tomou a decisão de que este seria um álbum duplo. “Eu pensei, ‘Este é o momento. Esta é a melhor ideia que os Sum 41 já tiveram para um disco.’ Ela ultrapassa a linha entre a música pesada e o pop-punk que nós fizemos ao longo dos anos. Eu senti que esse era o disco no qual eu poderia ir embora e pendurar o meu chapéu. Musicalmente, é a nossa evolução, enquanto o título, Heaven :x: Hell, representa a nossa jornada. Se há um registo que define quem somos, é este.”



Estava assim encontrado o álbum definitivo que Whibley imaginara dar aos fãs como prenda de despedida. Como se isso não bastasse, os Sum 41 ainda tiveram a coragem de decidir sair de cena na plenitude das suas capacidades. “Acho que estamos melhores que nunca”, disse o baixista Jason McCaslin também à Kerrang. “Ainda conseguimos tocar muito bem. Todos nós damo-nos bem. Não queríamos que chegasse a um ponto em que tivéssemos de parar, e disséssemos: ‘Uau, somos péssimos agora’ ou ‘Nós odiamo-nos’”. É difícil encontrar outros artistas ou bandas com esta mentalidade e que também cessaram um determinado projeto no topo da sua carreira. O exemplo mais conhecido é talvez o dos The Police. O power trio formado por Sting, Andy Summers e Stewart Copeland surpreendeu tudo e todos quando em 1986, após nove anos de banda, cinco álbuns editados e turnês esgotadas em estádios e arenas, decidiu separar-se.


Com o anúncio do último álbum veio, naturalmente, o anúncio de uma tour de despedida, que se irá arrastar até 2025 para que todos os fãs possam despedir-se da banda. Portugal não ficou de fora e os fãs nacionais vão ter a oportunidade de assistir ao último concerto dos Sum 41 no nosso país a 13 de Julho, no festival NOS Alive. Num concerto que será enérgico e extremamente emocional para todos os fãs, certamente que não ficarão de fora do alinhamento novas malhas como “Landmines”, "Waiting on a Twist of Fate" e “Rise Up”, todas elas de Heaven :x: Hell, e ainda clássicos como “The Hell Song”, “Pieces” e “Fat Lip”.





Rodrigo Oom Baptista


Referências:

Sum 41: “If there’s one record that defines who we are, it’s this one” (Cover Story)

Disponível em: https://www.kerrang.com/sum-41-kerrang-cover-story-interview-deryck-whibley-pop-punk-farewell-double-album-heaven-x-hell 

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