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“Pain Remains”: uma viagem pelo universo do blackened deathcore sinfónico dos Lorna Shore

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Embora a minha introdução ao heavy-metal tenha sido prematura, a minha introdução ao deathcore, ao blackened deathcore e ao death metal foi, de facto, tardia. E começou com os Lorna Shore.


Claro está que já tinha tido contacto com as bandas e álbuns seminais do género: Mitch Lucker, dos Suicide Silence, sempre foi um dos meus frontmen preferidos na cena metal; com quinze anos, descobri os Thy Art Is Murder, uma banda que mudou tudo para mim, em grande parte devido à voz impecavelmente produzida de CJ McMahon e, claro, aos tanto incríveis como brutais breakdowns presentes em todas as músicas – dois elementos com os quais, à época, ainda não tinha tido contacto. De resto, há ainda que sublinhar casos isolados de bandas como Fit For An Autopsy, Whitechapel, Chelsea Grin e, mais na vertente do death old-school, Cannibal Corpse, Napalm Death e Morbid Angel.


Contudo, nenhuma destas bandas ou álbuns me impactou e cativou tanto como os Lorna Shore, banda cuja discografia consumi integralmente e, on repeat, durante um período considerável e que, consequentemente, me abriu as portas para outras bandas que hoje ouço apaixonadamente, como Slaughter to Prevail.



O primeiro álbum que ouvi de Lorna foi Immortal (l. 2020), que me impressionou muito pelas performances técnicas e muito complexas dos músicos da banda, bem como pelos arranjos orquestrais épicos e muito bem produzidos. O modo como a sonoridade da banda mistura (cortesia de Josh Schroeder, encarregue da produção, mistura e masterização do álbum em questão) orquestras inteiras com duas guitarras de sete cordas, um baixo de cinco cordas, uma bateria esquizofrénica que mais parece um jogo de impossibilidades do que um exercício musical propriamente dito, efeitos sonoros sintetizados e um vocalista com uma presença muito potente, foi para mim uma revelação tão grande como quando explorei a discografia de Devin Townsend e aprendi como verdadeiramente usar uma wall of sound num contexto de heavy-metal (ouçam o tema em baixo para referência e notem  como os arranjos orquestrais e a banda se encaixam um no outro, não deixando um único milímetro sónico por preencher; surpreendentemente, como verão, funciona!).




 

De seguida decidi, então, explorar os seus lançamentos mais recentes. Comecei por ouvir o EP ...And I Return to Nothingness (l. 2021), que marca a saída do vocalista CJ McCreery e a entrada de Will Ramos para o mesmo papel. O EP abre com o primeiro single lançado após a entrada de Ramos na banda, ‘To The Hellfire’, que continua a ser uma das melhores e mais impressionantes canções (de metal ou não!) que alguma vez ouvi, em todos os sentidos. Os gritos desumanos do vocalista de, à altura, 26 anos, consolidam-no como um colosso de proporções bíblicas, apresentando-nos gritos agudos (apelidados pelo próprio de “goblin voice”), guturais graves e articulados, spitt raddle, false chords screams, fry screams e, no já icónico e viral (era do TikTok…) breakdown final, pig squeals.




 

Pain Remains (l. 2022), o lançamento que sucede o EP, é um álbum colossal e épico, mas também pesado e emocionalmente desgastante. Parafraseando Will Ramos, não se trata de um álbum invariavelmente pesado do início ao fim, oferecendo ao ouvinte apenas um estado de espírito, mas sim uma odisseia sonora com altos e baixos, momentos brutais e outros emocionantes, tal qual um filme com as suas introduções, desenvolvimentos, intrigas e clímax. Assim, Pain Remains respira e tem momentos de calma, mas tem também momentos de incrível tensão e de um peso sobre-humano. Os breakdowns serão até porventura demasiado pesados para uma escuta passiva, incentivando ou, melhor, obrigando o ouvinte a estabelecer uma ligação emocional forte com um género musical que nem sempre ilícita essa resposta. Tal é particularmente verdade no tríptico que encerra o álbum.


‘Pain Remains I: Dancing Like Flames’, ‘Pain Remains II: After All I’ve Done, I’ll Disappear’ e ‘Pain Remains III: In a Sea of Fire’, perfazendo um total de 20 minutos exatos, unem-se numa única faixa que encapsula, em si, todas as vertentes e qualidades do álbum em que se inserem. A primeira parte, a certo ponto, torna-se uma balada deathcore, algo entre Bring Me The Horizon e uns Suicide Silence sinfónicos (produto de um universo paralelo algo interessante), uma sonoridade absolutamente única que jamais teria idealizado e que resulta numa reação emocional potente e difícil de esquecer. As duas outras partes contam com breakdowns, solos virtuosos, riffs técnicos e muito rápidos, ritmos impressionantes na bateria e secções onde os arranjos orquestrais e corais brilham, a par com as performances impressionantes dos membros da banda. O resto do álbum conta com bangers dos quais destaco as primeiras três faixas (‘Welcome Back, O’ Sleeping Dreamer’, ‘Into the Earth’ – com aqueles gritos – e o single que antecedeu o álbum, ‘Sun//Eater’) e ‘Wrath’, a última antes do tríptico, notável devido em especial ao seu breakdown, nas palavras de um amigo, “verdadeiramente badalhoco”.


Lorna Shore e o seu frontman Will Ramos apresentam-se como a banda que, a meu ver, mais carrega o estandarte da nova geração do deathcore internacional, porventura seguidos apenas pelos Slaughter to Prevail, banda emergente liderada pelo verdadeiramente fenomenal Alex Terrible, mas que segue numa direção musical, se bem que dentro do mesmo género e subgénero, completamente distinta. Lorna trata-se então de uma banda com um futuro incrivelmente promissor pelo que, do meu lado, cá estarei para acompanhar a sua jornada durante os anos vindouros, curioso para ver que fronteiras composicionais, musicais e no que toca à produção e aos arranjos ultrapassarão a seguir.

 



Guilherme Santos



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