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Os Icónicos Rock ‘n’ Roll Billboards da Sunset Strip

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Foi na viragem do séc. XIX para o séc. XX que se começou a estabelecer o conceito de indústria musical. Muito se deveu aos avanços tecnológicos da época, que levaram a novas formas de escuta e à capacidade de reproduzir música fora do contexto dos espetáculos ao vivo. Objetos revolucionários, como o fonógrafo, de Thomas Edison, e o gramofone e os discos de goma laca de 78rpm, de Emil Berliner, começaram a ser disseminados e comercializados graças ao esforço de empresas como a Victor Talking Machine Company. Contudo, nada disto seria possível sem o papel da publicidade. Inicialmente esta era feita através de anúncios colocados na imprensa, mas com o desenrolar dos anos também passou a incluir outros formatos como pósteres nas ruas.


Nas primeiras décadas do séc. XX a indústria da música dividia-se entre o Reino Unido e a costa este dos EUA, afinal de contas era lá que ficavam as sedes das grandes editoras discográficas da época como a Columbia, RCA Victor e Decca Records. Com a chegada dos anos 40, começou-se a assistir a uma expansão da indústria musical para a outra costa dos EUA, mais precisamente para o estado da Califórnia e para a cidade de Los Angeles. A fundação da Capitol Records, em 1942, e a construção do edifício sede, em 1956, foi a semente para a vaga de editoras que se estabeleceram na cidade nas duas décadas seguintes, como foi o caso da Warner Bros. Records, a Elektra, a Atlantic ou a Asylum. Com a chegada dos anos 60, e a explosão da música rock, uma nova forma de publicidade musical, com um forte impacto visual, começou a despontar num trecho da Sunset Boulevard, uma das principais artérias da cidade. Falo dos Rock ‘n’ Roll Billboards da Sunset Strip, grandes cartazes pintados à mão que eram exibidos com o intuito de promover os novos lançamentos discográficos e os concertos que decorriam na cidade de Los Angeles.


Os billboards eram colocados estrategicamente na Sunset Strip, o tal trecho, de 2,7 km, onde estava sediado o centro musical da cidade com vários clubes e bares de rock como o Whisky a Go Go, o The Roxy, o Gazzarris’s, o Rainbow Bar and Grill e ainda a principal loja de discos, a Tower Records. Com a sua configuração retangular os billboards tanto exibiam um artwork que podia ser uma mera recriação da capa do álbum que estava a ser promovido, como procuravam reproduzir o desenho que aparecia no interior, e no exterior, dos discos que eram comercializados com uma embalagem gatefold, uma configuração que permitia abrir e visualizar a capa do vinil como se tratasse de um póster. Por vezes estes billboards procuravam também criar uma ilusão 3D através da extensão de partes do cartaz para além da sua configuração base, criando assim um impacto visual ainda maior.


Pode-se assim dizer que durante os anos 60 e 70 Los Angeles era uma autêntica galeria de arte ao ar livre e um deleite para qualquer fã de pintura e música.


Robert Landau foi um dos privilegiados. Cresceu mesmo ao lado da Sunset Strip nos anos 60 e testemunhou todo este movimento artístico musical. Ao aperceber-se da efemeridade dos billboards, pois além de serem pintados à mão eram apagados para darem lugar a outros, decidiu registá-los para a posteridade e reuni-los mais tarde num livro de fotografia que intitulou de “Rock ‘n’ Roll Billboards of the Sunset Strip”.  


Como devem calcular foram muitos os billboards que passaram pela lente de Landau ao longo de, sensivelmente, pouco mais de uma década. Desta forma, deixo aqui apenas uma pequena seleção daqueles que acho terem sido os mais impactantes.


The Doors, The Doors, 1967



Este foi o primeiro billboard musical a ser erguido na Sunset Strip. A ideia surgiu da mente de Jack Holzman, da Elektra Records, a editora dos The Doors. Posicionado junto ao histórico Chateau Marmont, e com um custo de aluguer de $1,200 por mês, a ideia era chamar a atenção dos djs das boates de LA quando estes se dirigiam para o seu trabalho. Um aspeto curioso relacionado com este billboard foi a presença da própria banda na sua inauguração. Isto era algo que normalmente não acontecia, mas o facto dos The Doors serem de LA fez com que pudessem estar presentes, o que tornou aquele momento histórico ainda mais impactante.


The Beatles, Abbey Road, 1969




O penúltimo álbum dos The Beatles foi o primeiro da banda de Liverpool a ser exibido na Sunset Strip. Neste billboard, a ideia passou por recriar a fotografia da capa, mas a cara dos Fab Four destacada através da extensão das suas cabeças para além das dimensões do cartaz. Ao usar esta técnica o billboard transmitia uma ideia de movimento, dando a ilusão que os The Beatles estavam mesmo a caminhar na passadeira.


Agora devem estar a perguntar-se porque é que a cabeça do Paul está cortada na segunda foto? Isso está relacionado com uma história curiosa e caricata. No final dos anos 60 surgiam vários rumores de que Paul McCartney teria morrido num acidente automóvel, e numa forma de brincadeira e de atiçar ainda mais os rumores um rapaz chamado Bob Quinn e um grupo de amigos decidiram subir até ao billboard e cortar a cabeça de Paul McCartney. Quando Roland Young, o diretor do departamento artístico da Capitol Records foi contactado para se inteirar da situação perguntaram-lhe se deveriam recolocar a cabeça de Paul McCartney, mas Young referiu prontamente que não, defendendo que assim o billboard chamaria mais à atenção.


Passados quarenta anos, quando Robert Landau estava a reunir as fotografias para entrarem no seu livro o mistério continuava no ar. Quem é que tinha roubado a cabeça de Paul e será que a pessoa em causa ainda a tinha em sua casa? Landau decidiu então tentar a sua sorte e anunciou na internet que iria oferecer um livro a quem levasse a cabeça de Paul McCartney para o lançamento de “Rock ‘n’ Roll Billboards of the Sunset Strip”.


O anúncio chegou aos ouvidos de Quinn, que acedeu à chamada e apareceu com aquele pedaço de história que tinha estado há décadas na parede da sua casa, e é graças a ele que ainda hoje subsiste uma memória iconográfica destes billboards.



The Who, Tommy, 1975 



Este billboard foi desenhado para promover o filme Tommy de 1975, baseado na ópera rock que os The Who tinham lançado em 1969. Por vezes, os billboards eram bastante apelativos visualmente, mas também difíceis de decifrar, o que acabava por resultar num fracasso comercial. Este é um desses casos, sem texto que remetesse para o nome do artista, dificilmente o público iria relacionar os dois grandes olhos representados com as pinballs alusivas à música “Pinball Wizard” presente em Tommy.


Bruce Springsteen, Darkness on the Edge of Town, 1978



Quando o Boss passou por Los Angeles em 1978 para tocar no mítico The Forum decidiu ir até à Sunset Strip para dar uma vista de olhos no billboard que promovia o seu mais recente álbum Darkness on the Edge of TownSpringsteen odiou o cartaz, referindo mesmo que lhe tinham feito o nariz demasiado grande. Então durante a noite ele e mais uns quantos membros da E Street Band decidiram subir até ao billboard para grafitá-lo. A ideia era fazer um bigode em si próprio, mas como Bruce não conseguiu chegar tão alto ficou-se pela frase “E Steet Prove It All Night”.


Cheap Trick, Dream Police, 1979



Não eram só as capas dos álbuns que se prestavam visualmente para o design dos billboards, por vezes a imagem que estava no interior do gatefold era mais apelativa e resultava melhor dada a sua configuração retangular. Este é um desses exemplos, onde em vez da capa do álbum foi utilizada a imagem que o fã encontra dentro do LP Dream Police, dos Cheap Trick.


Pink Floyd, The Wall, 1979




Em 1979 os Pink Floyd lançaram a sua obra-prima The Wall. Este billboard alusivo ao álbum, foi talvez o mais original no que diz respeito à forma como foi pensado. Inicialmente, quando o cartaz foi exposto, as pessoas não percebiam do que é que se tratava, pois apenas viam uma parede com tijolos brancos. No entanto, à medida que se aproximava a data de lançamento do álbum a editora repintava o billboard ao retirar vários tijolos que desvendavam um desenho, desenho esse que correspondia ao que se encontra no interior do gatefold do LP.





Rodrigo Oom Baptista




Referências:

11 Amazing Rock Billboards From the Sunset Strip

Disponível em: https://www.rollingstone.com/music/music-lists/11-amazing-rock-billboards-from-the-sunset-strip-21643/


12 Great Rock ‘n’ Roll Billboards Of The Sunset Strip

Disponível em: https://www.nme.com/blogs/nme-blogs/12-great-rock-n-roll-billboards-of-the-sunset-strip-24366



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