Música e Solidão – a construção do ego
e poemas inéditos de Ricardo J. P. Reis
Quando o mundo se torna inóspito, quando as pessoas se tornam amargas, quando o cenário em redor de repente sai de foco… who are you gonna call? Not ghostbusters. Nesses momentos em que o universo pertence apenas a ti, procuras refúgio onde sempre houve lugar, compreensão e acolhida para ti: a música.
De vazios cheios de gritos, dentro de cabeças errantes ou no interior de casas que deveriam estar repletas de amor, fugimos em direção à música. Música sem falas, ou canções com poemas que tanto ressoam dentro de nós… talvez mais que a própria melodia. Da música clássica ao rap, ao rock e metal, ao indie: tudo cabe dentro de nós. Sobretudo quando a solidão é tamanha. E procuramos o sentido à vida. Buscamos o caminho que deixamos de ver há… nem demos conta quando. Mas por momentos não importa, porque cantamos em uníssono com os músicos. Não estamos sós e alguém nos entende. A catarse acontece. O mundo torna-se menos frio e a noite mais quente. O desespero findo e a liberdade ao virar do calendário. A Arte acolhe em si todas as solidões do mundo – ou isso transmite às almas deambulantes em que nela catam consolo.
E subitamente, cria-se a beleza de ser sozinho, mas não ser só. De apreciar a reflexão trazida por este refúgio, esta bolha de paz dentro da música. Cria-se uma possibilidade de envelhecer e de sobreviver à adolescência, e abraçar a vida, continuando a deixar-se deslumbrar por caminhos melódicos. Descobrir a partilha musical com quem mais se ama ou com um simples desconhecido na noite, com que talvez não nos voltemos a cruzar – mas que importa? Por momentos coincidimos.
Escapando ao aquém, cria-se a beleza da possibilidade de resistir ao lado sombrio da vida e de descobrir que existem canteiros em nós que se regozijam nesse contato solitário com a música, que nunca poderemos partilhar inteiramente com o mundo. Que são só nossas. O viver a música. O construir do ego, não em relação ao outro, mas em relação à música.
E porque tanto a Música como a Solidão são únicas sem jamais o serem, comparto aqui – de forma inédita, muito rogada, mas finalmente aceite –, a voz de um grande poeta à espera de ser ouvida: Ricardo J. P. Reis.
Música e Solidão Tinha uma Casa cheia, Mas fugi Para um café - Vazio - com música Tanto ela Como eu. Porque fugimos? Esta vontade de ficar sozinho Desde pequeno Que acredito no destino, Que as músicas que tocam Neste café sem ninguém Ou os amores que encontro Por aqui por ali no além Tudo coincide. Tudo volta -
O bar fica cheio No meio dos olhares No meio da música Procuro amor Como quem Procura tempo certo Procura sentido - A metafísica Que vai para além Da nossa filosofia Como quem sofre De uma solitude Cheia de música. | A.T. S. R.
One more time Thinking of her When a love song comes on - But now there's a difference, When it doesn't remind me of her I'll stop listening. Maybe I'm being too hard on myself But I only want her on my thoughts Not any others, Just the same old songs that remind me of her. This must be human, I think I’m becoming normal |
Ricardo J. P. Reis
Mariana Rodrigues