top of page

Emo Nite - A festa que despertou uma subcultura musical adormecida

6f5c06b1-cb90-4b11-93e7-5450958e2fe4.jpg

Créditos: @_batatz_


Para compreender a festa e o fenómeno Emo Nite, primeiro é preciso compreender o contexto histórico da subcultura emo.


O termo emo é nada mais nada menos do que um diminutivo de emotional hardcore. Este conceito foi cunhado em meados dos anos 80, em Washington, D.C., para descrever um subgénero de post-hardcore assente numa sonoridade hardcore punk, que através de guitarras mais melódicas, breakdowns e letras vulneráveis de cariz confessional pretendia distanciar-se do D.C. hardcore, um género que congregava a subcultura skinhead e onde reinava a violência e certos ideais ligados à hipermasculinidade e ao sexismo. Esta rebelião, apelidada de “Revolução do Verão de 1985”, acabaria por dar origem a uma nova cena musical levada a cabo por bandas como Rites of Spring – considerada a primeira banda emo –, Gray Matter e Beefeater.


Apesar da curta duração de muitos destes projetos, a palavra acabou por chegar a outras regiões dos EUA através da troca de cassetes, vinis e fanzines. Rapidamente começaram a erguer-se novas cenas e com isso veio também uma espécie de reinvenção daquilo a que chamamos de música emo. A partir de meados dos anos 90, o emo já não compreendia só as bandas de post-hardcore; incluía também uma série de grupos que traziam para a sua sonoridade elementos de pop punk, indie rock e screamo, como era o caso dos Jawbreaker, Sunny Real State, Weezer, Jimmy Eat World ou Orchid. Destes subgéneros o pop punk foi o que melhor proliferou na viragem para os anos 2000, devido à explosão de bandas como The Offspring, Green Day e Blink-182, que acabariam por se revelar como uma influência para grupos como Sum 41, Simple Plan e Good Charlote, também eles extremamente influentes dentro da cena pop punk.


Por outro lado, foi também na segunda metade dos anos 90 que o emo começou a ser identificado como uma subcultura com uma identidade estética bem vincada. O reconhecido penteado assente num cabelo preto, liso e com uma franja pronunciada para o lado passou a ser popular na subcultura emo, após os Refused terem apresentado este visual no videoclipe da sua música “New Noise” de 1998. Já o uso de skinny jeans, t-shirts pretas, unhas pintadas de preto e eyeliner foi popularizado pela banda de metalcore Eighteen Visions. Ao apresentarem um visual algo efeminado, a ideia era contrariar, mais uma vez, a imagem hipermasculina do hardcore, que assentava em cabeças rapadas, bonés e roupa desportiva. Mais tarde, na segunda metade dos anos 2000, foram introduzidos, mais uma vez, no visual emo novos elementos como o uso de fishnets, cintos com picos, roupas com padrões axadrezados e às riscas (preto e branco ou preto e vermelho), skinny jeans coloridas e penteados tingidos. Aqueles que adotavam esta vertente mais colorida da estética emo rapidamente começaram a apresentar a nomenclatura scene.


Voltando à música, podemos afirmar que a era de ouro do emo decorreu entre os anos de 2004 e 2007. Durante este período foram lançados vários álbuns que ainda hoje fazem parte do cânone da subcultura. Falamos de Three Cheers for Sweet Revenge (2004) e The Black Parade (2006) dos My Chemical Romance, From Under the Cork Tree (2005) e Infinity on High (2007) dos Fall Out Boy, A Fever You Can’t Sweat Out (2005) dos Panic! At The Disco e Riot! (2007) dos Paramore.


Entre 2009 e 2013, assistimos a um declínio da música emo. Algumas das bandas referenciadas em cima, motivadas pelo seu crescimento pessoal e artístico, foram distanciando-se da sonoridade que caracterizava os seus primeiros álbuns, o que fez com que alguns fãs, também eles já em idade adulta, se afastassem um pouco destes grupos. Por sua vez, o metalcore, um subgénero associado à subcultura scene, foi ganhando espaço entre os seus membros, e foram várias as bandas que aproveitaram para lançar alguns dos melhores álbuns dentro deste registo, como é o caso de Homesick (2009) e What Separates Me From You (2011) dos A Day To Remember, There Is A Hell Believe Me I’ve Seen It, There Is A Heaven Let’s Keep It A Secret (2010) e Sempiternal (2013) dos Bring Me The Horizon, The Drug In Me Is You (2011) dos Falling In Reverse e Collide With The Sky (2012) dos Pierce The Veil.    


Mas, se há lema que se aplica à subcultura emo, é a expressão “não é uma fase”. Aliás, costuma-se dizer que “uma vez emo, para sempre emo”. Aliada a esta filosofia, está também uma certa ideia de nostalgia para com o que se viveu e se ouviu durante os anos da nossa adolescência. É neste contexto que, em 2014, surge a ideia de criar a Emo Nite, uma festa temática dedicada à música desta subcultura e onde durante algumas horas os “elder emos”, os adolescentes emo da segunda metade dos anos 90 e da primeira metade dos anos 2000 que agora estão na casa dos 30-40 anos, podem esquecer os problemas da vida mundana e focarem-se apenas em voltar a ser miúdos.


O conceito para a Emo Nite surgiu da cabeça de três elder emos, Morgan Freed, T.J. Petrarca e Babs Szabo. A ideia era fazer uma celebração positiva e comunitária da música que ouviam enquanto adolescentes quando se sentiam tristes e sozinhos. “Eu estava a cantar Dashboard Confessional num karaoke numa festa de aniversário de um amigo e reparei no quão divertido é sair com amigos e ouvir a música de que realmente gostamos.”, diz T.J. numa entrevista à New Yorker. “Todas as outras discotecas em LA tocavam EDM, top 40 ou hip hop e nós fazíamos sempre o pré noite a ouvir música emo e pop punk.”


A primeira festa acabou por acontecer numa terça-feira chuvosa no bar Short Stop, em Los Angeles. T.J. e Morgan tinham convidado apenas amigos através do Facebook, mas a palavra espalhou-se e apareceu um número de pessoas que perfazia mais do dobro da capacidade do bar. Do Short Stop até ao Echoplex, residência atual da Emo Nite em LA, foi um saltinho e na terceira festa já contavam com convidados ilustres da cena como Mark Hoppus, vocalista e baixista dos Blink-182.


Ao contrário de uma festa dita normal, na Emo Nite não há qualquer separação entre público e DJ. Isto é algo que se revela na ausência de barreiras entre a plateia e o palco, o que permite ao público subir ao palco para dançar e cantar todas as músicas. Por outro lado, e devido à natureza da música que é tocada, é também uma festa onde há muita agitação e movimentação no público, manifestada através de mosh e stage dive. Um dos aspetos mais interessantes das festas Emo Nite é o facto de muitas vezes contarem com presenças surpresa de artistas associados à subcultura emo, que aparecem para fazer um dj set ou uma atuação que pode ser em formato acústico ou elétrico. Algumas das presenças mais notáveis em festas Emo Nite foram as de Post Malone, Demi Lovato, Travis Barker dos Blink-182, Oli Sykes dos Bring Me The Horizon, Machine Gun Kelly, Jacoby Shaddix dos Papa Roach e Deryck Whibley dos Sum 41.



O sucesso da Emo Nite foi instantâneo e rapidamente tornou-se num franchise que conta com eventos recorrentes em mais de cinquenta cidades dos EUA e com performances em festivais de renome como o Coachella, o Lollapalooza e o Bonnaroo. A nível internacional a marca Emo Nite também já chegou a países como o México, o Japão e adivinhem… Portugal!


Em Portugal a Emo Nite é organizada por Fábio Batista, aka Eddie, vocalista da banda Hills Have Eyes e um dos fundadores da agência Mohit Entertainment, Guilherme Henriques, também da Mohit Entertainment e Ben Monteiro, músico dos D’Alva. A primeira Emo Nite Portugal aconteceu em Julho de 2022 no Village Undergound Lisboa. Desde então já foram organizadas mais quatro festas distribuídas pelo Estúdio Time Out, em Lisboa, pelo Hard Club, no Porto e pelo Under The Bridge, no LxFactory, também em Lisboa. Segundo Ben o que é interessante ver nestas festas é que “30% é malta da nossa idade e o resto é tudo malta muito mais nova (…) e vês a malta nova a cantar músicas que ficaram populares quando eles estavam a nascer.”





Não há dúvida de que o fenómeno Emo Nite veio despontar um ressurgimento da subcultura e da música emo. Entre novos artistas a surgirem e a darem cartas, como é o caso de Yungblud e Willow Smith, outros a virem de diferentes géneros musicais e a encontrarem uma nova identidade musical, como aconteceu com Machine Gun Kelly e Mod Sun, ou aqueles que nunca desapareceram do radar e que estão maiores do que nunca, como os Bring Me The Horizon, podemos afirmar com toda a certeza que a subcultura emo está mais viva do que nunca.  





Rodrigo Oom Baptista



Fontes:

Remembering 2006: When emo conquered the world and changed music forever

Disponível em: https://www.kerrang.com/remembering-2006-and-how-emo-conquered-the-world

The Rise Of Emo Nostalgia

Disponível em: https://www.newyorker.com/culture/jia-tolentino/the-rise-of-emo-nostalgia

Welcome to the RAWRing 20s: the rise and return of emo

Disponível em: https://www.dazeddigital.com/life-culture/article/55282/1/welcome-to-the-rawring-20s-the-rise-and-return-of-emo

 

CONTACTOS

  • Facebook
  • Instagram
  • YouTube
  • Spotify
Os textos, artigos e imagens publicados neste website são propriedade exclusiva dos seus autores.
Para citar qualquer um dos elementos referidos dever-se-á indicar o nome do/a autor/a, o título do texto e de qualquer outro elemento, e referir o nome do website onde se integram.
A cópia, modificação, reprodução, distribuição ou outro uso desses elementos é interdita, salvo autorização expressa dos respetivos autores.
logo_final-removebg-preview_edited.png

Faz parte deste projeto enviando-nos uma mensagem!

Obrigado!

Obrigado pelo envio!

bottom of page