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Bons sons, poesia e bifanas no Bons Sons

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Um festival que envolve e incorpora toda uma aldeia, que te diz “És caminho” numa rua e “És casa” numa outra. Um festival que traz vida a uma aldeia. Uma aldeia no interior de Portugal que, de repente, é recoberta por uma imensidão de pés que saltam a uma mesma batida. Uma imensidão de pessoas que espera ansiosamente pelo próximo acender de luzes em palco. Eu, algures pelo meio, era uma dessas almas.


Sábado, 13 de agosto de 2022, foi o memorável dia… Lembro-me como se fosse ontem… - sobretudo porque, no momento em que escrevo estas palavras, ainda não passaram 24 horas desde o fim desta experiência.


Talvez devesse chorar o cartaz que perdi, isto é, os artistas e a boa música que perdi do restante festival e que ainda guardo na esperança um dia poder sentir e escutar – na vã esperança que a organização do festival queira uma cronista oficial, ou algo assim, nunca se sabe; Contudo, creio que ainda estou a recuperar do choque de ter estado na presença de gente tão grande e pequenina (à distância que me encontrava). Gente que me fez vibrar de tal forma que me senti parte da Música ali criada e repercutida pelo público.


Por momentos, eu e o rapaz de nome que não sei sequer dizer, de cabelo e barba rebelde, descalço, com uma camisola de capuz com riscas azuis e brancas, estávamos conectados pela mesma linha de espírito e dançávamos com a mesma liberdade desmedida – um bem-haja ao Cabrita e companheiros músicos por gerarem os alinhamentos de planetas musicais imprescindíveis para tal.


Por momentos, perdi-me no sorriso de uma senhora que calmamente observava os visitantes estranhos, mas mais que bem adotados pela sua aldeia, durante o concerto dos Cassete Pirata, que em tantas voltas ao sol se distanciavam dela. Porém, ainda assim, numa proximidade trazida pela melodia, desfrutava ouvindo. Será que ouviu a dedicação revolucionário-esperançosa da canção final destes artistas? Suponho que não saberei, mas fico-me com o “somos mais do que eles”, dos Cassete Pirata.


Por momentos, quase me emocionei… Perdão, quase nada, há que assumir tal como é e foi o acontecimento: emocionei-me! Emocionei-me quando, por entre o fumo do assador de leitão, apercebi-me que estava a ter a honra de escutar ao vivo uma das vozes que mais repercutiu em mim, nos meus ouvidos e na minha mente: Manel Cruz, banda Pluto. A sensação de gritar a plenos pulmões “Só mais uma” e ser agraciada com o regresso com salto em meio do palco, para mais do que “só mais uma” – a felicidade. Os arrepios do final do concerto… o final da música em que de repente o ouvido só capta a vibração de cordas e o contorno desses dois músicos isolados a contraluz, tocando testa com testa. Arrepios e um sorriso de alma contente.


Confesso, devidamente envergonhada e após repreensões incontáveis autodirigidas, que não tinha conhecimento prévio de quem os Pluto eram... Não tenho justificação possível para este terrível deslize enquanto apreciadora de arte.


No entanto, talvez servindo em minha defesa, continuo a afirmar que parte do espírito que mais me atrai em festivais é a possibilidade de ser surpreendida, de escutar música nova, de renovar a alma com cada descoberta que nem sabíamos que nos era necessária. Adquire-se a sensação de que agora podemos apreciar melhor a vida. Sou consciente de que estou a dar a possibilidade de insultada por quem quer que percorra estas palavras, mas desafio-vos a partirem à descoberta: vão a concertos de música que não conheçam. Atrevam-se – e pelo caminho apoiam-se os músicos, o que tampouco fica nada mal. É uma sensação única, e reparadora, como dizem as publicidades de champô.


E que melhor local para experimentar e viver esta aventura que num festival como o Bons Sons? Que vai desde os grandes palcos como o Palco Lopes-Graça, ou o Palco António Variações, até ao Palco Garagem em que qualquer pessoa ou agrupamento pode tocar, gratuitamente e com condições técnicas. “Aqui as músicas são para todas as pessoas e o Palco Garagem é de quem o apanhar”.


Bem-haja ao Bons Sons. Bem-haja pela receção, pela aceitação, pelos teus habitantes. Bem-haja pela comida deliciosa a preços acessíveis. Bem-haja pelas ruas e ruelas surpreendentes. Bem-haja pela poesia espalhada pelos recantos da aldeia e Bem-haja pela música no ar. Bem-haja Cem Soldos.


Vemo-nos em breve, com o passe geral.




Mariana Rodrigues



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