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A música e/ou a inevitável passagem do tempo e MARO

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É familiar a muitos a ferramenta útil de contagem temporal que é a música… uma rápida conta mental sobre há quanto tempo estamos a gastar as reservas mundiais de água doce no chuveiro, tendo como unidade de medida uma canção, por simples exemplo ou, se somos desses malucos que fazem exercício físico (e muito bem! [não, não é o meu caso]), se utilizarmos uma playlist como medida de distância e/ou de velocidade (não me peçam detalhes sobre esta última, dos quais não tenho qualquer conhecimento, sirvam-se antes da imaginação se também não se identificam com tal uso). Ou talvez a música enquanto ferramenta temporal seja relativa a uma fase das nossas vidas, representativa de um qualquer género ou tipo musical, para o qual olhamos retrospetivamente, com mais ou menos repugnância.

Contudo, talvez e porventura, seja necessário incluir certas músicas que resistiram ao passar do tempo – soa a cliché, estou consciente disso mas, cético leitor, não desista já desta pobre alma torturada. Refiro-me a músicas em que não importa a quantidade de décadas que já as separam da atualidade, que algo de aproximação nos fornecem. São músicas que parecem funcionar como uma máquina do tempo. Músicas em que perdemos noção de qual é a dita realidade [sim, sinta-se o ceticismo]. Em que, de repente, sentimos o que sentíamos quando era essa música que reproduzíamos em loop – quer para apagar o mundo lá fora e ficar em uma bolha aconchegante tão generosamente oferecida por essa música, quer para um processo de reflexão e introspeção necessária e/ou ao qual não podemos escapar...

Caro leitor, que não sabe se está num universo alternativo de ficção científica ou fantástica, já presenciou a criação dessas bolhas isolantes salvadoras de almas, em primeira pessoa?

Retórico leitor, permita-me contar-lhe um caso…

Em tempos idos, nomeadamente a 9 de outubro de 2020, em meio a uma miríade de publicações, histórias e notificações, uma bolha de paz se formou… Jardin d’hiver. MARO telefonou a Charlotte Cardin, para nos cativar com uma versão da canção de Henri Salvador, e tornou a chamada pública, para nosso deleite.

A junção destas duas vozes tão contrastantes, acompanhadas pela guitarra geram uma atmosfera que requer que o ouvinte se concentre no que escuta, que acompanhe a melodia, que espere pelas partes a duas vozes, que antecipe os solos e os trauteares, e sinta o tempo providenciado generosa e calmamente pela guitarra. Mas sobretudo que o ouvinte não se dê conta da paz em que entrou de mansinho.

Paz esta que exige, notavelmente no silêncio que a segue, que o ouvinte volte a reproduzir uma e outra vez este curto vídeo. O silêncio no final da canção que lhe permite, hipnotizado ouvinte, apreciar inteiramente a obra que acaba de escutar.

Conto sobre esta chamada quando podia ter mencionado a colaboração de Maro com Rui Veloso, Tiago Nacarato, Fink, The Paper Kites, com Jacob Collier, com Rita Vian, ou, como não poderia deixar de mencionar, a colaboração com António Zambujo, versão de “Mano a Mano” (que o próprio canta com Salvador Sobral) – ou ainda qualquer outra das 100 colaborações presenteadas ao público, até ao momento (deixa-se a semi prece, semi subentendida, MARO).

É de sublinhar que tampouco se recomenda a escuta destas canções a quem prefere evitar sentir em demasia.

E aqui, caro extenuado leitor, apresento-lhe uma outra aplicação da música enquanto ferramenta de medição da inevitável e, por vezes, aparentemente interminável passagem do tempo: a música como momentos de limiar, ou limbo, da vida – quer para escapar para respirar antes de retomar, para melhor a apreciar ou para quem quer simplesmente parar para disfrutar Arte.

Mariana Rodrigues

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