WOLF ALICE & BON IVER
E foi num espaço de 12 dias que tive a oportunidade de ver dois maravilhosos concertos de duas grandes bandas do indie atual. Wolf Alice a 31 de outubro, no Coliseu dos Recreios, e Bon Iver a 11 de novembro, na Altice Arena.
3 meses depois da sua última passagem por cá, os Wolf Alice aterraram em Lisboa num Coliseu longe de estar cheio. Apesar de inúmeros lugares vazios, este estava dominado por fãs dedicados e efusivos do grupo, que atuou por cerca de uma hora e meia.
Nesse dia de Halloween, passavam poucos minutos das oito da noite quando se ouviu o toque de entrada: “Who you gonna call? / Ghostbusters!”, o arranque ideal para a entrada dos Wolf Alice, que se apresentaram com pinturas faciais a celebrar a data. A banda abriu as portas com “Smile”, o segundo single do seu mais recente álbum Blue Weekend.
De cima do palco, o maior entusiasmo vinha por parte do baixista Theo Ellis que contagiava tudo e todos cada vez que se aproximava do público, pedindo aplausos e barulho ao erguer altivamente o seu baixo. Ninguém ficou indiferente ao seu carisma.
O concerto foi claramente marcado pelo álbum Blue Weekend lançado em 2021, que foi tocado na integridade, e já foi considerado por críticos como um dos melhores trabalhos da banda. Mesmo assim, brilhante repertório dos dois primeiros álbuns Visions of a Life e My Love is Cool não ficou esquecido. Especial destaque para “Silk” e “Bros”, do primeiro álbum, completamente indispensáveis para este concerto. Para grande pena minha, não tive oportunidade de ouvir “Blush”, um dos meus temas preferidos do grupo, também desse álbum.
Durante dois minutos e meio a intimidade reinou no Coliseu, no momento mais memorável do concerto. Ellie, em cima de um estrado, canta “Safe from Heartbreak (If you never fall in love)”, uma das melhores faixas do último álbum (se não a melhor), com a sua sombra projetada no fundo do palco. Destaco também a maravilhosa “Delicious Things”, que possui um dos refrões mais catchy dos Wolf Alice, que foi ecoado a plenos pulmões pelo público do Coliseu.
A energia do público, visível em vários momentos de mosh, nunca se perdeu durante o concerto que ficou marcado pela versatilidade. Versatilidade essa muito graças à voz de Ellie, que possui um timbre que se adapta facilmente a diferentes géneros musicais, o que faz com que duvidemos se estamos num concerto de heavy metal com grandes guitarradas ou numa coletânea de leves baladas amorosas cantadas num tom soft.
Depois de uma breve saída, os Wolf Alice voltaram para um encore que ficou marcado pela estreia na tour do tema “Lisbon” do primeiro álbum My Love is Cool, muitíssimo indicada para um concerto em Lisboa. Ficou também marcado por uma despedida com o maior êxito da banda “Don’t Delete the Kisses”, que faz esperar um regresso dos Wolf Alice a Portugal.
No mês seguinte, foi no dia de S. Martinho que pude dar vida a um bilhete guardado numa gaveta há 3 anos, 1 mês e 28 dias. O aguardadíssimo concerto de Bon Iver, a banda americana de nome francês e de estilo indie folk liderada por Justin Vernon.
Logo no início do concerto fiquei de queixo caído ao ouvir os primeiros acordes de “U (man like)”, um dos meus temas favoritos da banda e, a meu ver, a música mais underrated de Bon Iver. Não podia morrer sem ver e ouvir esta canção ao vivo.
Os vocais fenomenais de Justin Vernon não passam despercebidos a ninguém, o rei dos falsetes não possui uma única má performance. De mão dada com a sua voz mágica, está a presença de Jenn Wasner, a única mulher do grupo e uma presença fundamental e indispensável na banda, dado os seus brilhantes backing vocals em músicas como “U (man like)”.
O concerto foi claramente dominado pelo último álbum do grupo, i,i, lançado em agosto de 2019, que sintetiza um pouco de todo o repertório passado de Bon Iver. Verifiquei, com agrado, que o tesourinho “Blood Bank”, do EP homónimo lançado no longínquo 2009, não ficou esquecido, assim como “Flume” e “The Wolves (Act I and II)”, do primeiro disco For Emma, Forever Ago.
O clímax do concerto é finalmente atingido quando a banda americana decide tocar de seguida “Skinny love” e “Holocene”, os seus dois maiores êxitos, algo a que o público respondeu cantando em coro.
Confesso que senti falta do segundo álbum Bon Iver, Bon Iver, o meu preferido do grupo, do qual apenas foram apenas executas as faixas “Perth” e “Holocene”, uma vez que “Calgary” e “Towers” seriam presenças essenciais para um concerto.
As duas horas de concerto foram ainda preenchidas por brilhantes solos de saxofone, em faixas do último álbum, e por vistosos jogos de luzes no meio do palco que se enquadravam perfeitamente no espírito da banda.
Parecendo que não, Bon Iver é uma banda com apenas 15 anos, porém, a sua maturidade a nível musical faz com que esta aparente ser um grupo com mais uns aninhos. As duas últimas colaborações com Taylor Swift nos magníficos temas “exile” e “evermore” conferiram bastante protagonismo ao grupo.
O que é certo é que estas duas bandas de indie, uma mais virada para o pop contemporâneo, outra mais para o folk clássico, possuem algo em comum. Não só o seu amor por Portugal e Lisboa, dado que o próprio Justin afirmou que Lisboa é a sua cidade preferida na Europa e Ellie fez orgulhosamente uma tentativa falhada de falar português, como também o facto de, apesar de não conseguirem esgotar as salas onde atuam, possuírem fãs dedicados que sabem todas as suas letras de cor e que cantam em coro todos os seus temas.
Jorge Tabuada