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Quis saber quem sou

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Há poucas coisas que se possam passar para palavras quando entramos numa experiência tão sinergética entre intérpretes e público. Há poucas palavras que consigam descrever este ambiente de solidariedade criado entre 13 jovens atores e a plateia. Mas foi assim que me senti ao sair do espetáculo “Quis Saber Quem Sou”, de Pedro Penim, no passado dia 28 de abril.  A peça esteve em cena entre o dia 20 e o dia 28, com produção do Teatro Nacional D. Maria II (integrado no ciclo Abril Abriu) e teve lugar no Teatro São Luiz.


Foi um teatro político e musical, em todas as suas formas. E neste sentido, estive perante uma obra revolucionária (“pode-se usar esta palavra?”, como nos questionam com tanta frequência no espetáculo: as pessoas têm medo de certas palavras, sendo esta uma delas). É revolucionária, sim, pois é alterada repentinamente a perspetiva com que se vai a um teatro — sentados, na nossa cadeira, diria que até passivamente, à espera que a obra aconteça. Esta obra, no entanto, acontece connosco, através da ligação entre a memória coletiva que críamos relativamente ao 25 de abril e a vivência do momento presente, tão cheio de contrariedades políticas cada vez mais polarizadas. Atravessamos esta dualidade através de um texto riquíssimo, repleto de citações (tantas, tantas citações, desde Nietzsche, Brecht, a soldados que participaram no 25 de abril, unindo-nos ainda mais nesta contrariedade (e aparente unidade) do passado-presente), que intervém em nós.


Talvez o mais inovador nesta peça seja a personagem principal ser coletiva. Um coro, inspirado na Grécia Antiga, transporta-se para o presente, dizendo a maioria dos textos em uníssono, ouvindo-se 13 vozes, simultaneamente e de um modo claríssimo. O pensar a vida e a sociedade de um modo coletivo é posto, assim, em primeiro plano, personificado pelo coro.


Este coro é ainda dotado de duas particularidades: além da fala, esta personagem coletiva usa também outros meios para se expressar, como a linguagem gestual (interpretada por dois elementos, com grande destaque) e a música. Esta tem um papel preponderante, começando por dar título ao espetáculo: “Quis saber quem sou” é a frase que iniciou, através do canto, a revolução de abril – transportando-nos de novo para a dualidade anteriormente apontada: por um lado, para o universo cancioneiro de abril, e, portanto, para o passado, mas também para esta pergunta metafísica, que nos põe em confronto com a nossa existência, e, deste modo, também com a nossa realidade atual. Viajamos assim, ao longo da peça e através da música, numa constante balança entre o passado e o presente. Viajamos pelas canções de abril (que não se limitam à atmosfera portuguesa, procurando também a música brasileira e a africana) com esta dupla consciência: a história que estas canções tiveram na época e o impacto que têm hoje e o que nos dizem elas sobre o que estamos a viver atualmente, passados 50 anos. Somos assim presenteados neste concerto teatral com uma (riquíssima) escolha musical que nos faz passar por inúmeros estados de espírito: por um canto-lamento; um canto-aviso; um canto-nostalgia; um canto-coletivo e um canto-esperança.


Concluiria que nesta obra de arte encenada por Pedro Penim estamos perante um cruzamento entre duas formas de intervenção: a do teatro – “a arte por excelência do aqui e agora”, como nos diz Pedro Penim – e a das canções de abril. Até ao final do ano, esta peça vai estar em cena ainda em vários locais: Aveiro, Porto, Loulé, Tomar e ainda Coimbra. Que tenham em todas as apresentações o merecido reconhecimento.

 

 

 

                                                                                                                 Sara Maia



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