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Quase Nicolau na Malaposta… Alvorada do regresso da música ao vivo em Portugal?

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Foi pelas 21h do dia 24 de junho de 2021, no Centro Cultural da Malaposta, que o sexteto lisboeta intitulado Quase Nicolau se apresentou ao vivo pela primeira vez desde 2019. O concerto, que em muito se assemelhou a um evento de divulgação do seu EP "Alvorada" (lançado em janeiro de 2021, atrasado, como muitos eventos e acontecimentos do setor cultural, devido à situação pandémica e suas consequências), contou também com a apresentação de novos singles, temas que irão, segundo as intervenções da vocalista, teclista e, por vezes, percussionista Joana (Domingues), constar no próximo álbum da banda, o seu primeiro LP.

A sala estava cheia, esgotada, e o Centro Cultural da Malaposta plenamente preparado para receber as dezenas de pessoas que vieram assistir ao concerto. Entre elas contavam-se amigos, familiares, conhecidos, colegas, melómanos, num ambiente que se poderia caracterizar como íntimo e familiar, como se viu pelos grupos de amigos e famílias que se reuniram à conversa, no final, à porta do Centro, aguardando e aplaudindo entusiasticamente a saída dos músicos.

O espetáculo iniciou-se com dois temas do referido EP, que foram cantados e tocados interruptamente, interligando-se de modo muito belo. A primeira canção, que é a que inaugura “Alvorada”, intitula-se “Ainda”, e trata-se de uma composição unicamente vocal, a capella, em que os seis músicos, ainda sem os seus instrumentos, mas munidos de microfones, harmonizam voz acima de voz, camada acima de camada, até atingirem uma harmonia sólida, consistentemente consonante (ou não, dependendo dos momentos e da intenção dos e da intérprete) e bem ensaiada, em que apenas Nuno (do Lago, baterista e percussionista) não participou (afinal, segundo o próprio na sua única intervenção falada durante todo o concerto, “sou tímido”). De seguida, veio “Pouco, Tanto”, ainda preservando a ordem definida pelo EP, após um breve momento em que os músicos se prepararam para tocar, afinando as guitarras e o baixo elétrico ou colocando-se confortavelmente atrás da bateria e do teclado. O primeiro aplauso, no final de “Ainda”, foi constrangido, mas não por falta de vontade de aplaudir da parte do público, apenas por uma dúvida geral que correu a sala: será que já acabaram a música ou será que isto foi uma introdução? Contudo, o segundo foi já seguro, tal como todos a partir desse momento: vigorosos, longos, barulhentos e recheados de assobios, “uhu!s”, “yeah!s”, “uau!s” e outras onomatopeias que refletiam o gosto que a sala sentia em ouvir aquele grupo de jovens a apresentar a sua música. No final do segundo tema, foi Joana quem falou pela primeira vez, agradecendo a presença do público e introduzindo a próxima canção, que não começou antes da intervenção de carácter cómico, despreocupado e “quebrador-de-gelo” de Francisco (Melo, baixista, guitarrista, vocalista e ocasional “kalimbista”), que gracejou que, a partir desse ponto, tudo iria começar a correr melhor pois já estavam “aquecidos”. Conseguiu um riso genuíno e, mais uma vez, sentiu-se o bom ambiente da sala, uma mistura de intimidade, familiaridade e gosto por ouvir música ao vivo, prática verdadeiramente rara em pleno 2021.

O que se seguiu foram cerca de 45 minutos de músicas já conhecidas e outras ainda por conhecer, onde reinaram (e eis os elementos, de uma forma ou de outra, transversais às performances ao vivo e à breve, porém rica, discografia dos Quase Nicolau): precisos e energéticos fills e breaks de bateria que anunciam a chegada da parte mais ritmada (o clímax, geralmente) da canção; riffs e dedilhados de guitarra (elétrica, acústica ou viola braguesa), geralmente repetitivos, que constituem o esqueleto rítmico e harmónico da canção; harmonias vocais por cima das vozes principais de Zé (Lobo Antunes, vocalista e guitarrista) e Joana; trocas de instrumento entre os dois Franciscos (Melo, já referido, e Carrapa, guitarrista, baixista e vocalista da banda); os movimentos e postura de palco roqueira e quasi-irreverente de Gonçalo (Mota, guitarrista e vocalista), certamente inspirada pelos grandes ícones da guitarra elétrica da música rock do último quartel do século XX. Por outro lado, destacamos ainda momentos como a “dedicação especial” do tema “Corre!”, o primeiro single lançado pelo sexteto de folk-rock do qual falamos, a nenhum outro senão Cristiano Ronaldo.

O final do concerto destaca-se pela sua beleza. Foi Zé quem, após aquela que seria, em qualquer outra apresentação da banda ao vivo, a música final, anunciou que iriam cantar e tocar um arranjo do tema “P'ra Lá do Rio”, do álbum “Spazutempo”, dos Zarco (que não puderam estar presentes nesta noite), em homenagem ao seu baixista falecido em dezembro de 2020, o eterno Gastão Reis. O arranjo contou com a guitarra clássica de Francisco Carrapa enquanto base instrumental única, bem como com as vozes dos seis membros dos Quase Nicolau, coro doce e suave, humilde, em que todos participaram, numa ação de camaradagem verdadeiramente comovente. A homenagem foi breve, mas sentida, e a letra da canção fez particular sentido naquele momento: “Fui p'ra lá do rio / Fui p'ra l'a do mar / Chegado ao mar / O mar estava vazio / Já cá não está quem mais sorriu”.

Após esta última canção, os aplausos foram longos e de pé, durando vários minutos. No final, teve de ser Zé, após uma breve conversa com os colegas de banda, a anunciar “Nós queríamos tocar mais, mas a DGS não deixa!”, ao que Melo rematou, de novo munido de um tom verdadeiramente jocoso, “Não são vocês, somos nós”. De novo conseguiu o riso e, assim, uma sala animada e bem-disposta, porém levemente emocionada, se despediu dos Quase Nicolau, um “até à próxima” que se espera breve e com a qualidade e criatividade musicais a que a banda nos tem vindo a habituar ao longo dos seus três anos de existência.


Guilherme Santos


Palavras-chave: “folk-rock”; “música portuguesa”; “rock português”; “harmonias vocais”; “música ao vivo”.



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