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Quando as coisas fazem sentido

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Esta semana tive o enorme prazer de assistir a uma verdadeira demonstração musical no miradouro do Monte Agudo. Chamo-lhe verdadeira porque raramente tive oportunidade de assistir a uma “open jam reggae session” que realmente incentivava as pessoas a participar — a participar e a dar o seu melhor, encorajando-as apenas, sem julgamento. Algo que seria uma possibilidade, tendo em conta a qualidade do produto musical que abriu aquele encontro. Os Plantada — banda que abriu a jam — deram um concerto imaculado, com uma qualidade hiper “completa”: 3 guitarras, 2 cantores (eram também os guitarristas), 2 percussionistas e 1 saxofonista. Com isto, quero dizer que a banda ganhou o “direito” (não apoiando esse tipo de atitude) de se “superiorizar”, e, em vez disso, convidou todos os espectadores a partilhar do mesmo espírito, a levantar, ficar à vontade e expressar tudo o que lhes apetecia.


Houve quem fosse lá por pura vontade, houve quem fosse por talento, uns bons, outros melhores, mas sempre foram, na mesma medida, aplaudidos e incitados pela banda, pelo público, pelo ambiente.


Os Plantada fizeram questão de tocar um repertório completo também, cantando desde originais, a clássicos do reggae brasileiro, a hits dos Beatles, “Michelle, my belle” passará para sempre a ser lembrado com um bubble* de reggae por trás.


Fui ao concerto com os meus amigos, entusiastas de reggae, que estavam a contagiar-me com o seu entusiasmo, tendo, contudo, começado o “concerto” sentada, cansada de um dia de trabalho, e tinha a certeza que assim iria permanecer.


Adivinhem o que vem a seguir?


Fui incapaz de ficar quieta, e percebi que ninguém me ia julgar se me tentasse libertar e dançasse realmente como queria. Começámos a gravitar em direção à frente do palco, embalados pela música e incitados pela multidão aceitadora.

O vocalista dos Plantada notou na nossa euforia e aprovou a postura, anunciando, outra vez ao público: “pessoal, relembro que esta é uma jam aberta”, e notando no meu amigo, os músicos começaram a convidá-lo a improvisar.

Para nossa surpresa, ele aceitou, dirigiu-se ao microfone e iniciou-se a melhor jam da noite, e, sendo eu suspeita nesta opinião, mas, garanto-vos: foi.


A imediata aceitação, a energia partilhada pelos espectadores convenceu-o a continuar, até que se lhe juntou o vocalista dos Plantada, partindo para uma cuidadosa harmonização, que não lhe roubou a ribalta, mas antes aumentou o seu à-vontade e acrescentou a vontade de continuar. Enquanto isto eu lutava com o apetite súbito que se apoderava de mim de me juntar. Infelizmente, a vergonha que costuma ganhar, assim o fez mais uma vez, o que até foi um alívio, porque me permitiu apreciar o concerto em vez de me preocupar com tentativas de encontrar canções que soubesse de cor.


Desta forma, pude sentir o orgulho inconcebível de ver uma pessoa de quem gostamos a sair-se bem, ser aplaudido como merece e a apresentar um espetáculo inesquecível para todos.

Há algo na sensação de ouvir uma completa harmonia entre todos os membros da banda, que só pode vir de estreitos laços de amizade, e muitos dias de ensaios.


É viciante e impossivelmente satisfatório, o que me convenceu a passar a ser uma participante regular, em muitas das futuras open jams do miradouro do Monte Agudo.

Pode ser que da próxima vez a vergonha não ganhe, mas, caso tal aconteça, garanto a presença de mais amigos talentosos que me permitam sentir o mesmo outra vez.


*ritmo base do estilo de reggae.



Marta Tavares


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