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Conjunto Júlio junta o Psicadélico ao Rock na Malaposta

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Já marcava o relógio nove horas na noite do dia 21 de outubro quando o palco do Centro Cultural da Malaposta foi invadido por 4 jovens que prometiam ao seu público uns excelentes 50 minutos de música. O Conjunto Júlio trouxe consigo boa disposição, mas sobretudo uma incrível capacidade de cativar e surpreender o seu público.

Estamos perante uma banda juvenil, num projeto que emerge neste ano, composta por 4 membros: Francisco Sanona na guitarra elétrica, João Maria na guitarra elétrica, voz e synths, Tomás Simões no baixo e Vasco Brito na bateria. Com uma sonoridade rockeira que nos transporta para uma realidade vizinha de bandas como King Gizzard and the Lizard Wizard, o Conjunto Júlio oferece-nos sons verdadeiramente psicadélicos, com linhas do baixo bem estruturadas e um acompanhamento da guitarra flutuante, sem nunca esquecer os ritmos marcantes e absolutamente necessários da bateria. Esta banda consegue um bom equilíbrio entre música puramente instrumental e canções cantadas, dando ao público espaço para pensar naquilo que sente enquanto escuta e decidir para que lado abanar a cabeça no segundo seguinte. Aproveitando-se do imaginário poético português, podemos ouvir como o passado encontra no presente um veículo para se manter vivo, com contribuições de textos de poetas incontornáveis como Florbela Espanca e Luís Vaz de Camões. Conjunto Júlio é certamente uma banda que marcha ao ritmo do seu próprio tambor e que traz uma variedade bem-vinda ao cenário do rock português, recorrendo a compassos menos usuais, influências de música oriental e uma grande capacidade de sentir a música no momento através do poder da improvisação.

O concerto da Malaposta já não é o primeiro rodeo destes rapazes, que já vão a meio da sua tournée de estreia, tendo, por exemplo, tocado em setembro no Festival do Avante; no entanto, e como é o caso de qualquer banda a começar carreira, há muito por onde experimentar e acertar até chegar à “fórmula do sucesso”. Ainda sem álbum de estreia, cada concerto acaba por ser uma surpresa para o público, no entanto o fator da novidade ajuda em muito a banda em questão: é bom oferecer à nossa audiência algo que seja capaz de a surpreender e cativar ao mesmo tempo, especialmente quando ainda não têm provas dadas.

Eu apareci no concerto sem grandes expectativas, com o objetivo de apoiar este novo projeto e mostrar solidariedade para com os meus colegas de curso. Fui, contudo, arrebatada pela incrível presença de palco de todos os elementos, da relação orgânica entre eles e de uma sonoridade que é difícil de caracterizar para além de “preciso de ouvir mais disto.” Acredito que haja uma grande preparação por detrás do seu trabalho, especialmente quando se está a lidar com compassos mais complexos e sonoridades mais experimentais e mudanças de tempo quase abruptas, mas a relação que os membros do Conjunto Júlio criaram entre si é profundamente invejável e palpável por qualquer pessoa que assista a um dos seus concertos: a confiança entre eles corre profundamente e são os mais pequenos contactos visuais que dão asas a mudanças inesperadas na música e que fazem o público saltar da cadeira em êxtase.

O público foi também outro aspeto que contribuiu fortemente para o sucesso deste concerto: a sala não era muito grande e a qualidade do som tornava-se por vezes um problema que custava corrigir, mas nada disso servia para demover a audiência do facto de que estava a ter uma noite fantástica. O ambiente que se sentia era de camaradagem e uma pessoa não conseguia evitar sorrir quando olhava em volta e via o resto do público a sentir a música em conjunto. Após cada canção, ouvia-se uma onda calorosa de aplausos e gritos de apoio, que só ajudavam a selar o impacto positivo de cada momento musical.

É difícil escolher qual a canção que achei mais impactante porque todas elas oferecem algo de diferente, mas até hoje (e sobretudo desde que a ouvi ao vivo) a “Esquizo” leva o bolo. A guitarra elétrica começa lenta a marcar o tom da canção, com intervenções pontuais do baixo: parece que embarcamos numa viagem e que a “Esquizo” é o comboio que nos transporta. A bateria junta-se também aos poucos e o ritmo vai acelerando progressivamente, tal como se estivéssemos dentro de uma das carruagens do Intercidades. Assemelha-se a algo saído de uma jam session e agora para sempre imortalizado em 5 minutos de surpresas e bons sons. O final é apoteótico e é algo que resulta ainda melhor ao vivo, puxando pela reação do público.

Se até agora ainda ficaram algumas cabeças por convencer sobre o poder musical cativante que os quatro membros do Conjunto Júlio têm, então desafio os leitores a irem descobrir por si mesmos se de facto a banda é tão boa como eu a elogio, porque ainda há mais datas na sua tournée atual (https://www.instagram.com/p/CUFpXhwMaOL/?utm_source=ig_web_copy_link) e certamente muitas mais no futuro.

Para terminar, e à moda do imaginário poético do Conjunto Júlio, só poderia descrever a noite de 21 de outubro como um copo de vinho que é desfrutado ao final do dia, que desce pela garganta abaixo como seda e que nos surpreende com a sua força e subtileza ao mesmo tempo.

Patrícia Moreira

Palavras-chave: “rock”; “música portuguesa”; “rock psicadélico”; “rock português”; “música ao vivo”


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