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Nu Genea: os trovadores napolitanos

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Começo por confessar que no terceiro dia do mítico Paredes de Coura, apesar do sucesso musical do dia, principalmente depois do concerto dos L’Imperatrice, estava pronta para me retirar. No entanto, acabei de algum modo sentada na relva do palco secundário, sem ter prestado atenção a que banda estava a atuar.


Enquanto refilava sobre falta de energia, querer dormir, já não ter forças, comecei a ouvir melodias e ritmos intrigantes e segui-os até me encontrar no meio de uma festança mediterrânea.

A exaustão pareceu fugir e juntando-me à energia contagiante do público, olhei em frente, curiosa sobre quem estava a ouvir e vi “Nu Genea”. E foi com esta apropriada apresentação que passei a conhecer o grupo.


Nu Genea tem vindo a oferecer a energia napolitana (em forma auditiva) a quem tem a sorte de os descobrir. Inicialmente designados por Nu Guinea, alteraram o nome do projeto para Nu Genea recentemente.


A dupla é formada pelos DJs e músicos Massimo Di Lena e Lucio Aquilina, que contam com a colaboração de outros músicos, como Marcello Giannini e Pietro Santangelo, e cantores, como Célia Kameni e Fabiana Martone. Com misturas de instrumentos, linhas melódicas e estilos musicais em fartura, a dupla acede a sons atuais de sintetizadores, mantendo simultaneamente as suas raízes com referências sonoras ao som napolitano dos anos 70 e 80. Nu Genea integra-se no nicho designado de Italo-funk.

 

O primeiro álbum da dupla é Nuova Napoli (2018), nome certeiro considerando que o grupo parece espelhar a energia festeira da sua cidade de origem, Nápoles. Nuova Napoli é de fácil audição, com 7 músicas que passam a correr, sem peso algum, e sem vontade de passar nenhuma à frente.


Começa com um single homónimo, “Nuova Napoli”, instrumental, sem vestígios de voz. Um início ideal para esta banda sonora de Nápoles — minha declaração pessoal como visitante e recente admiradora da cidade. É de destacar também a quarta faixa deste álbum, “Disco Sole”, quase só instrumental, sempre acompanhada de um forte baixo, e com uns ocasionais gritos gloriosos para nos surpreender.


Mas é no seu segundo álbum, Bar Mediterraneo, surgido 4 anos depois de Nuova Napoli, que Nu Genea encontra o seu som.  Uma comparação metafórica dos dois apresenta-nos Nuova Napoli como o dia em Nápoles, ponderado e carismático, e Bar Mediterraneo como a comemoração da noite. É o sinónimo do encontro da diferença, não só musical, mas também cultural e linguística.


Inicia-se instrumentalmente, seguindo o exemplo de Nuova Napoli, também com um single homónimo ao álbum, ótima introdução à festa que é “Tienaté”, que precede esta primeira faixa. “Tienaté” é o derradeiro espelho da cidade de Nápoles, interpretado por Fabiana Martone e cantado em dialeto napolitano, que, com um pouco de distração, quase soa a português. Esta festa napolitana é rodeada por uma energia inebriante e frenética que nos põe a bater o pé e eventualmente nos força a mexer. Para além dos fortes baixos pontuados com melodias sintetizadoras, que por si só fariam da canção uma festa, o ritmo acelerado dos djembés acrescenta um ambiente imprescindível à faixa.


Segue-se o tristonho mas, de algum modo, animado “Gelbi”, cantado em dialeto tunisino por Marzouk Mejiri, mantendo a promessa do álbum de aceitação e ajuntamento de culturas e lugares.


Bar Mediterraneo não seria Bar Mediterraneo sem a groovy “Marechià”, a quarta canção do álbum. Ao ouvir “Marechià” começamos por ouvir o que parece ser francês, que evolui para napolitano numa aliança suave entre as duas línguas, feita sem esforço por Célia Kameni. “Marechià” é um single que se assemelha a folk-disco, nunca falhando em agradar as audiências, pelo menos as que obrigo a ouvir tal canção.


Mensagem final de uma straniera em invasão portuguesa de Itália —Erasmus, como lhe chamam — Nu Genea é o que se ouve por aí, tendo estado em contacto com alemães, belgas, espanhóis, um argentino e um ocasional turco esta é uma banda que une a diferença e, como vantagem, soa bem no ouvido.




Marta Tavares



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